Maria
March 17, 2004
CM/FM 3465
Maria 659
8/03
Quando comeèaram a cair, um a um, vi um círculo de luz descer em sua direèäo, como uma coroa sendo colocada nas suas cabeèas por duas mäos translúcidas. Naquele momento percebi que tudo o que minha babushka me dissera era verdade.
Querida Família
Estou empolgada com o que o Senhor me deu para compartilhar com vocês nesta BN. Lembram-se da histôria que Papai nos contou vârias vezes nas Cartas sobre os cristäos no gelo na Rússia que morreram pela sua fé? Bem, agora o Senhor permitiu que as pessoas que vivenciaram isso contassem suas histôrias, para nos ajudar a entender o que realmente aconteceu nessa situaèäo verídica. Säo pessoas reais, e abriram sua vida para nos ensinar mais sobre fé, sobre nos agarrarmos às nossas coroas e corrermos a carreira que nos estâ proposta.
2. Segue-se um dos relatos de Papai desse acontecimento, para refrescar a memôria. É da Carta “Lutadores”:
Dizem ter acontecido na Rússia‚ logo no início do comunismo, quando a perseguièäo aos cristäos era ferrenha. Colocaram um grupo deles ao ar livre no gelo e nus para morrerem por näo terem renunciado à sua fé. Os soldados avisaram que se algum deles quisesse se salvar, sô precisava correr de volta aos guardas, renunciar à sua fé‚ e näo morreria.
Portanto, todos congelaram e foram caindo um por um. Mas este último cara näo agüentava mais. Quando viu todas aquelas pessoas morrendo e sô ele sobrando, saiu correndo em direèäo aos guardas dizendo que näo agüentava mais e que negaria a sua fé. De repente um soldado disse: “Râpido, vista meu uniforme, pegue a minha arma! Eu vou lâ morrer no seu lugar! Eu estava aqui observando e vi que quando cada pessoa caía uma coroa era colocada sobre sua cabeèa! Mas no momento em que a mäo descia do Céu para colocar a coroa na sua cabeèa, você correu! Entäo, tome, pegue meu uniforme e minha arma! Quero tomar o seu lugar! Eu quero aquela coroa!” (CdM 551:130-132).
3. Primeiro Pietro se apresenta e conta sua histôria. Ele era o soldado russo que viu uma coroa ser colocada na cabeèa de cada cristäo no gelo ao morrer, e disse as famosas palavras: “Eu quero aquela coroa!” — E a ganhou! Depois tem o testemunho de Franz‚ o que negou sua fé e abriu mäo de sua coroa. Ele näo perdeu a salvaèäo, mas perdeu grande parte da recompensa. Ele nos conta sua histôria e detalhes íntimos de sua vida, a razäo por que sua fé estava fraca na ocasiäo e o que lhe aconteceu nos anos subseqüentes, depois de ter aberto mäo da sua coroa para outro.
4. Para tornar tudo ainda mais interessante e nos dar mais detalhes importantes do que aconteceu nos bastidores‚ a avô de Pietro, Karinya‚ nos conta a sua versäo. Como väo ver ela foi uma mulher de grande fé e de muita oraèäo! E se alguma vez quiseram saber o que aconteceu aos outros soldados russos presentes naquele dia gélido no fim do mundo e que testemunharam este evento inesquecível‚ näo percam o relato de Vladimir! Sua vida, e a de seu colega, Yuri, nunca mais foi a mesma!
5. Näo quero falar muito para näo contar histôria toda, mas oro para que estes testemunhos encorajem, inspirem e fortaleèam a sua fé. Jesus tem uma linda coroa para cada um de nôs, e näo podemos apenas decidir se vamos pegâ-la ou largâ-la quando estivermos morrendo aqui na Terra ou se formos chamados para ser mârtires. É uma coroa que decidimos querer a cada dia da nossa vida. É uma coroa pela qual temos que estar dispostos a lutar‚ mesmo se for sô por fé. É uma coroa pela qual escolhemos sacrificar, porque estamos convencidos no nosso íntimo que ela vale a pena e que Jesus espera isso de nôs.
6. Muitas vezes imaginamos uma coroa como uma peèa chamativa, de ouro, linda. Mas no cotidiano ela se traduz em trabalho ârduo, sacrifício, em morrermos diariamente e em tomarmos nossa cruz e servirmos Jesus näo importa o que aconteèa. Agarrarmo–nos às nossas coroas näo é uma decisäo que tomamos sô uma vez na vida. Temos que dizer cada dia: “Sim, quero a minha coroa. Näo vou negar a minha fé, vou dar tudo de mim, custe o que custar!” — E às vezes é preciso muito; nem sempre é fâcil. Temos que decidir cada dia que vamos nos submeter, render e lutar pela nossa coroa, que vamos continuar fazendo a vontade de Deus, o melhor que podemos para Ele, e para cumprirmos o Seu plano supremo para nôs!
7. Temos que lutar pelas nossas coroas! “Aquela coroa” significa morrer diariamente e é uma decisäo constante de tomarmos nossa cruz para seguirmos Jesus! Talvez nunca vejamos nossas coroas de uma forma tangível, de modo que näo sô requer luta, mas fé também, para agüentarmos firme e näo desistirmos. Mas realmente vale a pena! Como Papai disse: “Näo hâ coroa sem cruz‚ näo hâ testemunho sem teste, näo hâ triunfo sem prova, näo hâ vitôria sem batalha, näo hâ rosa sem espinho! Glôria a Deus,foi por isso que você entrou ao exército — para lutar e vencer! Vale a pena! Vale a pena cada luta‚ batalha, teste e prova! Vale a pena passar por tudo!” (CdM 551:133-134).
8. Obrigada, querida Família, por se agarrarem às suas coroas com toda a sua forèa, poder e espírito! “Corramos com paciência a carreira que nos estâ proposta; olhando para Jesus, Autor e Consumador da nossa fé!” (Heb.12:1-2).
Com muito amor e grande fé em cada um de vocês,
Mamäe
Apresentando Pietro
9. (Pietro: ) Eu me chamo Pietro. Vivi num vilarejo perto de Petrogrado*. Venho de uma família de agricultores, e desde que me entendo por gente sô me lembro de dificuldades. Depois que as plantaèöes cresciam, freqüentemente nos eram tiradas por príncipes corruptos e seus homens‚ e às vezes até mesmo pelos soldados do czar que controlavam nossa regiäo. (*No comeèo da I Guerra Mundial em 1914‚ quando a Rússia estava em guerra com a Alemanha‚ a cidade de Säo Petersburgo [na época capital da Rússia] mudou o nome do original alemäo para Petrogrado, em russo. Um tempo depois, a cidade e o nome Petrogrado se associaram intimamente com a Revoluèäo Russa, que teve início em 1917. A cidade entäo passou a se chamar Leningrado, depois da morte de Lênin em 1924. Depois da queda da Uniäo Soviética em 1991‚ foi votado por um referendo municipal que a cidade voltaria ao nome original: Säo Petersburgo.)
10. Muitos morriam de fome, e embora conseguíssemos esconder o suficiente das nossas safras para permanecermos vivos‚ a vida era sempre muito difícil. Certo dia alguns homens vieram ao nosso vilarejo prometendo nos ajudar. Meus pais e minha babushka [avô], que morava conosco, ficaram bem desconfiados, pois jâ tinham ouvido muitas promessas que nunca se concretizaram. Eu tinha dezesseis anos na época, e para mim as palavras cheias de convicèäo daqueles homens me davam esperanèa. Eu tinha raiva do pessoal do czar que se dizia cristäo mas que nem se importava com o fato de estarmos sempre quase morrendo de fome.
11. Naquela noite disse aos meus pais e à minha babushka que ia me juntar a esses homens e tentar trazer igualdade para todos os russos para que todos tivessem comida suficiente. Meu pai ficou muito zangado e me proibiu de me envolver com eles. Ele disse que eles odiavam a Deus e que sô iriam destruir o nosso país. Roguei-lhe que me deixasse ir, depois fiquei irado e exigi que me deixasse, senäo fugiria de casa de qualquer forma para me juntar a eles. Ele saiu furioso de casa, e minha mäe, chorando, correu para o seu quarto.
12. Minha babushka me levou para o seu quarto e, olhando nos meus olhos, disse: “Pietro, sei que você é um jovem teimoso e que vai acabar fazendo o que quer. Temo por você. O que o seu pai disse é verdade. Näo importa o que esses homens dizem — nunca poderäo trazer nenhum bem. Eles condenam a Deus como sendo parte da corrupèäo do czar, e embora queiram ajudar os pobres, se assumirem o controle do país no final nos faräo coisas muito piores.
13. Se você näo for dar ouvidos ao meu aviso entäo lhe peèo que me prometa uma coisa. Quero que me prometa que sempre vai deixar pelo menos um cantinho de seu coraèäo aberto. Esses homens vivem em trevas e essas trevas väo anuviar a sua alma. Eles väo tentar convencê-lo de que Deus näo existe, e que o objetivo da religiäo é ruim. Mas Deus é mais do que religiäo‚ e embora o czar tenha usado a igreja para os seus prôprios interesses, esses homens näo säo melhores do que ele, porque eles buscam os seus prôprios interesses sem Deus. Mas me prometa que näo importa o que eles digam, você sempre terâ um cantinho de seu coraèäo aberto para ouvir a voz de Deus se Ele falar com você. Porque um dia Ele vai responder às minhas oraèöes e lhe provar que Ele é real, e que esses homens säo maus.”
14. (Jesus:) Orem pelos seus amados que abandonaram o Meu servièo‚ para que eles sempre mantenham seus coraèöes abertos para Mim e seus ouvidos sintonizados à voz do Meu Espírito, porque virâ o tempo quando reunirei de novo cada um dos Meus filhos desgarrados, e os chamarei para Me servirem novamente de uma forma especial. Eles väo ouvir Minha voz na hora certa, e as Minhas Palavras lhes seräo claras, quando o Meu Espírito renascer em seus coraèöes, protegidos e preservados pelas suas oraèöes.
15. Achei que ela estava louca. Eu sabia muito sobre Jesus, pois fiquei salvo na infãncia e fui instruído por ela na fé desde pequeno. Mas como era jovem e rebelde naquela época, sô conseguia ver Jesus como um homem pendurado numa cruz me encarando zangado por causa dos meus pecados. Entäo prometi que deixaria um cantinho aberto no coraèäo caso Ele algum dia falasse comigo, embora nunca achei que Ele ia querer nada comigo, e eu tinha outras aspiraèöes mais promissoras naquele momento. — Estava indo salvar a Rússia.
16. Naquela noite juntei umas poucas coisas numa trouxa e fui para o acampamento que aqueles homens tinham feito nos arredores do meu povoado. Juntei-me ao seu pequeno mas crescente grupo e viajamos de cidade a cidade. Ouvia as suas palavras que nos prometiam tudo de bom e maravilhoso. Sentia-me mal sempre que blasfemavam contra Deus, mas com o passar do tempo isso me incomodava cada vez menos. Acabei também blasfemando a Deus e me perguntando por que eu antes acreditava naquelas fâbulas ridículas.
17. Chegando a Petrogrado, muitos outros se juntaram a nôs, e logo formamos um pequeno exército. Aí aconteceram as revoltas do päo e a revoluèäo chegou às ruas de Petrogrado. Alguns soldados abriram fogo contra as pessoas antes do exército ficar contra o czar e se unir à nossa causa. O ôdio tomou controle de mim depois disso, e me alistei nas novas forèas armadas, agora conhecidas como o Exército Vermelho. Os anos de guerra civil que se sucederam à revoluèäo foram uma explosäo de paixäo e ôdio contra qualquer coisa ligada ao czar ou ao seu pessoal. A retôrica dos nossos líderes ficou cada vez mais violenta e mais generalizada.
18. Assim que acabou a guerra e o Estado e Governo foram reorganizados, o enfoque passou a ser limpar o país de quaisquer pessoas que näo fossem leais ao novo sistema. Os cristäos eram considerados czaristas, e o Exército Vermelho e a polícia secreta comeèaram a prendê-los nos povoados e vilas e levâ-los para campos de trabalho, mas ouvi falar que muitos eram executados como anti-revolucionârios. Doía saber desses acontecimentos, mas estâvamos convencidos de que näo havia outra maneira de limparmos a terra das influências do czar e concretizarmos a utopia do puro estado comunista.
19. Eu näo tinha me envolvido até entäo com a execuèäo de cristäos. Ajudava a juntâ-los e colocâ-los nos trens onde eram transportados. Assim era mais fâcil eu me endurecer para o que estava acontecendo. Eu näo acreditava mais em Deus. Estava imerso no ôdio — ôdio dos maus que oprimiam os pobres, e de Deus‚ que permitia tais coisas. Näo queria acreditar em Deus‚ porque se Ele fosse real eu teria que me zangar com Ele‚ e se Ele fosse Deus, näo teria como enfrentâ–lO. Entäo O neguei como todos os outros. Optei por me recusar a acreditar que sequer existia um Deus, e por acreditar que aqueles que acreditavam nEle estavam apenas usando isso como fachada para oprimir os pobres e subjugar meu país. Tudo fazia muito sentido e o meu raciocínio justificava meus atos, calejando a minha consciência até eu näo ter misericôrdia de ninguém que atrapalhasse nossos esforèos de “libertar” as massas.
20. Eu näo tinha que fazer o “trabalho sujo”, e me sentia melhor assim. Mas numa noite de inverno, quando estâvamos carregando um trem com cristäos, Ubinov, meu superior, me procurou com uns papéis na mäo e mandou que eu acompanhasse aquele carregamento de cristäos até o Norte. Tentei me safar dizendo que eu era mais útil ali‚ jâ que ainda havia mais rebeldes para capturarmos, mas näo deu para desobedecer às suas ordens. Qualquer desobediência significaria prisäo e morte quase certa como traidor e anti–revolucionârio.
21. Senti nojo ao entrar no trem. Os gemidos e choros das crianèas nos vagöes de carga penetravam a dura fachada que eu tinha formado. Näo conseguia deixar de me perguntar se talvez tudo tivesse ido longe demais. Muito do que eu tinha aprendido na infãncia fora destruído, e embora tivéssemos ideais täo elevados, até entäo aqueles ideais sô tinham causado derramamento de sangue e sofrimento. Os pobres estavam numa situaèäo täo ruim como sempre ou pior, pelo que eu tinha ouvido das cartas que os soldados recebiam de suas famílias.
22. Nunca escrevi aos meus pais nem a babushka depois que entrei para a revoluèäo. Näo podia. Queria acreditar que estavam bem e de alguma forma protegidos dos horrores que estavam acontecendo. Näo agüentava pensar que eles talvez ainda tivessem sido considerados cristäos e capturados também. Näo queria saber, e escolhi sonhar que estavam bem.
23. Depois de dois dias de viagem chegamos a um lago congelado. Eu nem imaginava por que estâvamos ali. Näo sabia direito para onde levavam os cristäos ou o que faziam com eles, embora tivesse ouvido que muitos eram executados e outros levados para os campos de trabalhos forèados. O trem parou e o último vagäo de carga foi desengatado.
24. Mandaram-me sair do trem, e um pequeno grupo de nôs, soldados, liderados por um oficial que eu nunca tinha visto‚ ficaríamos ali; e o trem partiu. Alguns soldados disseram que aquilo era rotina. Näo haveria espaèo suficiente nos prôximos campos para todos os prisioneiros, de modo que eles simplesmente se livravam do excedente. Eles voltariam no dia seguinte para nos pegar e levar o vagäo vazio para o lugar seguinte para voltarmos a carregâ-lo.
25. Alguns soldados riam e faziam piada sobre o que estava para acontecer, mas outros ficavam em silêncio olhando atemorizados. Abriram as portas e comeèaram a forèar os homens, mulheres e crianèas a irem pela neve até o lago.
26. “Por que estamos fazendo isso?” Perguntei ao comandante. “Eles väo morrer lâ!”
27. "E o que poderíamos fazer?" vociferou. “As cidades estäo ficando sem alimentos e esses cristäos traidores sô estäo comendo a comida que deveria ir para os que säo leais. A Mäe Rússia ficarâ melhor se livrando desses subversivos. Agora, ao trabalho e faèa esse pessoal ir para o lago!”
28. Fazia sentido, mas observar as crianèas indo para a morte parecia muito errado. Eu me vi como um menino entre eles, e lâgrimas comeèaram a correr pelo meu rosto quando foram forèados a se despir e caminhar até o gelo para morrerem ali. Foi entäo que aquele cantinho do meu coraèäo recobrou vida.
29. Eles seguiram adiante, sem gritar nem implorar misericôrdia, mas caminhando calmamente, como o seu Salvador, como cordeiros para o matadouro. Seus semblantes refletiam algo que eu nunca vira em ninguém. Era como se uma luz resplandecesse neles. Deram-se as mäos e comeèaram a louvar a Deus pela fé que lhes havia dado.
30. Entäo comeèaram a cair‚ um a um, e vi algo que näo tenho palavras para expressar. Surgia uma luz do alto, de algum lugar no céu‚ mas ao mesmo tempo muito prôxima do gelo‚ como se estivesse iluminando apenas aquele espaèo. Eu sabia que näo era a luz do sol, porque o sol estava atrâs de nôs. Observando um homem, vi um círculo de luz descer em sua direèäo e entäo percebi que era uma coroa segurada por duas mäos translúcidas — dava para ver através delas! Momentos depois que a coroa foi colocada sobre sua cabeèa‚ o homem caiu ao gelo. Vi outras coroas descendo do céu e mais pessoas caindo ao gelo. Dava para saber exatamente quem seria o prôximo a cair por causa das coroas de luz que desciam sobre suas cabeèas. E depois que eles caíam eu via uma imagem da pessoa de pé, firme e ereta, voando para cima com as mäos estendidas em direèäo à luz.
31. Naquele momento percebi que tudo o que babushka me dissera era verdade. Soube que Jesus era real, e até mais, eu O vi näo como um Deus zangado que queria que eu sofresse, mas como um Ser de Amor — terno, caloroso, cheio de aceitaèäo e compreensäo.
32. Um homem tinha ficado para trâs e tentado persuadir os soldados a deixâ-lo ficar com eles, mas zombaram dele e o jogaram de um lado para o outro, depois o forèaram a ir para o gelo, dizendo-lhe que ele poderia voltar e se juntar a eles se negasse que era um cristäo e que Deus existe e declarasse que queria participar da causa Bolchevista.
33. Depois de vârios outros cristäos caírem ao gelo e serem levados pela luz, fiquei reparando naquele homem um pouco separado dos outros. Sabia que ele näo compartilhava dos mesmos sentimentos dos outros, pois näo parecia ter a mesma dedicaèäo, nem paz suficiente para enfrentar a sua sina. Fiquei curioso para ver o que iria lhe acontecer, porque eu tampouco me sentia muito em paz sobre enfrentar a minha sina. De modo que comecei a observâ-lo melhor, esperando para ver se ele receberia uma coroa como a dos outros. Foi entäo que ele voltou correndo aos gritos, dizendo que se juntaria a nôs, que negaria qualquer coisa e faria qualquer coisa, mas que queria viver.
34. Naquele momento algo mudou dentro de mim. Percebi no que eu me tornara. Olhando para os outros soldados que estavam comigo eu via que estavam nas trevas. E naquele instante me odiei pelo que havia me tornado. Eu os odiava pelo mau que via neles‚ e entendi entäo que meu lugar era lâ no gelo. Eu queria aquela coroa.
35. A essa altura os soldados estavam zombando do dissidente, dizendo que sô poderiam levâ-lo de volta se ele tivesse uma farda e que, a menos que um dos soldados quisesse trocar de lugar com ele e lhe dar a sua farda, näo tinha jeito dele voltar junto com eles no trem. Eu sabia o que eu queria e fui com ousadia até o comandante que falava com aquele homem.
36. “Ele pode ficar com a minha farda e a minha arma!” — disse. “Näo os quero. Quero ficar junto com os cristäos no gelo. Vi o que estava acontecendo lâ! Eles recebiam coroas à medida que iam para junto do seu Senhor. Eu quero aquela coroa.”
37. "Você ia ganhar uma também, seu bobo!" — disse-lhe. “Mas você saiu correndo quando ela jâ estava bem em cima da sua cabeèa! Eu quero ganhar a sua coroa”.
38. Houve um silêncio ensurdecedor quando tirei meu uniforme e dei ao tal homem. Caminhei pelo gelo e, ao olhar para trâs, vi muitos de meus camaradas chocados, sem conseguir acreditar no que viam. Alguns tinham lâgrimas escorrendo pelo rosto, e o homem que agora estava usando a minha farda, sentado no chäo todo encolhido, chorava amargamente.
39. Eu sabia que tinha feito a escolha certa. Ao caminhar pude ver os corpos daqueles que jâ haviam partido antes de mim, e ao me aproximar deles uma luz comeèou a me envolver. Näo sentia mais o frio, o gelo, a neve e o vento cortante‚ porque aquela luz me aquecia e me fazia sentir muito leve — täo leve que sentia que poderia voar.
40. Olhei para cima‚ e lâ na minha frente estava Jesus com os braèos estendidos, segurando a coroa mais linda que eu poderia imaginar. Näo era o Jesus zangado que sempre visualizei, mas o Jesus que falou ao cantinho do meu coraèäo enquanto observava os cristäos receberem sua recompensa — o Jesus caloroso, atencioso, terno e amoroso que agora olhava lâ de cima para mim com o sorriso mais amoroso — um sorriso que eu sabia que näo era digno de receber.
41. (Jesus:) Todos que Me recebem e väo para o Céu ganham uma coroa, mas as recompensas säo diferentes‚ dependendo da sua vida na Terra. É impossível vocês entenderem tudo claramente e absorverem todas as diferenèas espirituais. Basta dizer que as recompensas diferem. Os que Me servem‚ Me amam e däo tudo de si recebem maiores recompensas do que aqueles que sô Me receberam no coraèäo e nunca levantaram um dedo para Me ajudar ou ajudar os outros.
42. E aí comeèou uma vida de maravilhas. Tenho passado a maior parte do tempo no Céu me preparando para receber os que aqui chegam, aprendendo como encontrar e guiar os muitos que entram neste plano e aqueles que ainda häo de vir nos anos por vir à medida que o tempo de angústia comeèar — ajudando-os a entender muitas coisas que nunca lhes foram ensinadas ou sobre as quais estäo confusos ou que entenderam mal.
43. Eu adoraria recepcionar alguns dos filhos de David quando vierem para casa. A recepèäo de boas vindas para vocês é especial e divertida, muitas vezes com desfiles e celebraèöes “sui generis”. Vocês näo precisam passar por longos períodos de adaptaèäo porque num certo sentido jâ se sentem muito à vontade no plano espiritual devido às suas comunicaèöes freqüentes com o Senhor e seus ajudantes espirituais. Estäo familiarizados com a maneira como as coisas säo feitas no Céu, devido ao seu conhecimento da forèa do pensamento celeste e das chaves do Reino e por aprenderem a se fundir a Jesus como ninguém mais na Terra!
44. Entäo, se quiserem, por favor‚ sintam-se à vontade para me pedir para fazer parte do seu comitê de recepèäo no Céu. Tenho certeza que o Senhor ficarâ feliz em atender ao seu pedido e garanto que sua festa serâ memorâvel!
45. (Jesus:) Säo indescritíveis as honras e as recompensas que recebem no Céu as Minhas noivas que Me servem dedicando sua vida, coraèäo e espírito enquanto estäo na Terra. Todos nos Céu que testemunham a chegada de um dos Meus fiéis servos, um dos filhos de David, sabem que ele é honrado por Mim de uma maneira muito especial. Näo hâ como negar.
46. Aqueles que cruzam os portöes do Céu depois de Me servirem fielmente na Terra säo muito respeitados e honrados‚ tanto que ficaräo chocados e humilhados com isso, näo no sentido de se sentirem envergonhados, mas sim estupefatos, sem saber o que dizer, por causa de tudo o que veräo, sentiräo e saberäo naquele momento.
47. Levou um tempo para eu aprender e crescer. Mas o Senhor sempre tinha tempo para caminhar comigo, o que Ele fazia muitas vezes, e me explicava amorosamente muitas coisas. Eu me sentia indigno de Seu amor e desvelo, mas isso parecia fazê-lO querer ministrar ainda mais para mim. Eu certamente estou na classe daqueles a quem muito foi perdoado, portanto muito amam (Lucas 7:47). O que me parecia täo absoluto naqueles poucos anos que passei na Terra foi na realidade uma grande tolice. Eu tinha tanta certeza que estava certo, mas isso sô demonstra como eu estava errado quando escolhi sô ver o que eu queria ver.
48. Aliâs, se alguém precisar de um espírito ajudante, especialmente na Rússia, mas em qualquer lugar, na verdade, eu adoraria compartilhar a sabedoria que aprendi para ajudâ-los a ter convicèäo e dedicaèäo para agüentarem firme e näo desfalecerem quando a coroa estiver descendo sobre a sua cabeèa. (Fim da mensagem.)
49. (Jesus:) A coroa de recompensa é sua, e sempre serâ a menos que você abra mäo dela. Você muitas vezes sente como se fosse apenas um vapor, nada tangível nem real‚ talvez até mesmo fruto da sua imaginaèäo‚ mas no espírito é um tesouro que vale a pena procurar e ao qual se agarrar a todo custo.
50. Tal como abri o véu entre o Céu e a Terra e permiti que Pietro visse o verdadeiro valor das coroas de recompensa, assim também posso ajudar você a ver as coisas no espírito. Talvez näo veja uma coroa física e tangível como ele viu, mas, se olhar com os olhos da fé, o ajudarei a ter a mesma certeza que ele teve, de que deve agarrar a sua coroa por mais alto que seja o preèo, por maior que seja o sacrifício e por mais desgastante que seja a luta.
Apresentando Franz
51. (Franz:) Sei que a primeira coisa que lhe passa pela cabeèa é: “Ei, quem jâ ouviu falar de um russo chamado Franz?” Acreditem se quiser, mas muitos alemäes tinham se estabelecido na Rússia naquela época, especialmente no leste e norte. Os meus pais tinham se radicado em Petorograd antes da guerra.
52. Sob o governo da czarina, os alemäes foram bem–vindos na Rússia e nos tornamos bem prôsperos. [Obs.: Alexandra, esposa do Czar Nicholas II‚ era alemä — filha de um gräo-duque alemäo e neta da Rainha Victoria.] Os russos às vezes nos evitavam porque éramos luteranos, e os fiéis da Igreja Ortodoxa näo gostavam de nos ter ali. Ainda assim, temiam a czarina que nos favorecia e näo ousavam nos perseguir abertamente.
53. Vivíamos numa paz relativamente tensa. Meus pais eram bem ativos em sua fé e tinham ganhado muitos amigos entre os russos, outrora envolvidos com ídolos e imagens, tanto que Cristo tinha Se tornado uma parte mínima da religiäo deles. Tínhamos muitas liberdades e uma simplicidade que atraía os que estavam cansados da opressäo da Igreja Ortodoxa. Comparados aos filhos de David, tínhamos ainda muito chäo pela frente, claro, mas éramos sinceros na nossa fé.
54. Cresci com um bom treinamento na Palavra de Deus e minha vida era tranqüila. Tinha muitos amigos e esperanèa de alcanèar uma boa posièäo, talvez até mesmo na corte do czar um dia. Mas‚ chegando ao final da adolescência, vi que nem tudo estava certo, tanto com a Rússia como com a minha fé.
55. Eu adorava as festas e a grandeza dos ricos, e perdera aquela simplicidade e a visäo de fazer algo significativo com a minha fé. Ainda tinha fé‚ ainda acreditava, mas por que perder tempo com isso quando podia me divertir tanto? Eu era jovem e diversäo é inerente à juventude. Acha que poderia pensar em coisas como religiäo quando ficasse velho demais para desfrutar dos prazeres da juventude.
56. (Jesus:) Viver para este momento é sempre muito mais fâcil do que viver para a eternidade. Vocês estäo presos à Terra, em débeis corpos humanos‚ e é difícil ver além das circunstãncias. Querem se divertir‚ receber reconhecimento imediato e desfrutar o presente momento.
57. Mas bem-aventurados säo aqueles que vivem, trabalham e investem no mundo eterno, no amanhä, Me servindo, Me amando, e vivendo por Mim. É um trabalho pelo qual você nem sempre colhe resultados imediatos ou notâveis, mas é um trabalho que estâ sendo edificado e que vai durar para sempre, do qual se orgulharâ por toda a eternidade. É um legado infindâvel de amor e doaèäo do qual nunca se arrependerâ.
58. Vi a pobreza aumentando nas ruas e as pessoas ficando cada vez mais desesperadas. Sentia um pouquinho de convicèäo de que deveria estar fazendo alguma coisa a esse respeito, mas aí aparecia outra festa e logo me esquecia do assunto. Apesar das muitas admoestaèöes de meus pais, comecei a me afastar aos poucos dos compromissos que assumira pela minha fé. Eu näo ficava para ouvir quando o meu pai lia a Bíblia para a família. Parei de orar. Encontrei desculpas para näo participar dos cultos simples que minha família tinha com outros crentes alemäes. E alguns anos depois‚ um pouco mais velho, eu jâ tinha esquecido completamente da minha fé, assim como do lugar que Deus deveria ter na minha vida.
59. Aí veio a confusäo. Hâ anos jâ vinha aumentando, mas eu estava cego, ignorando os sinais e avisos, preso à minha prôpria existência egoísta e estilo de vida decadente. As mudanèas ocorreram täo râpidamente que mal percebi o que estava acontecendo. Em questäo de meses a minha vida mudou de festas e bailes, de bebedeiras com os amigos e sexo com namoradas, para a derrubada do czar e a ascensäo de um governo apôs o outro. A riqueza que desfrutâramos foi-nos tirada e fomos forèados a nos mudar para um apartamento pequeno‚ podendo levar conosco pouco mais do que as roupas do corpo.
60. A princípio fiquei com raiva de Deus por ter estragado tudo. Mas depois de vârias conversas com meu pai, que tinha muita sabedoria para lidar comigo, comecei a ver a minha parte no problema. Comecei a voltar para o mundo que conhecera quando crianèa, mas as coisas estavam ficando sem controle numa tal velocidade que havia pouquíssimo tempo para tentarmos reedificar minha fé antes daquele dia fatídico.
61. Ouvimos que estavam recolhendo os alemäes, principalmente os cristäos, e acusando-os abertamente de serem subversivos e espiöes. Muitos dos luteranos no extremo norte tinham se rebelado contra os bolchevistas e houve massacres antes de os bolchevistas serem expulsos dos países bâlticos. Entäo agora os bolchevistas estavam se desforrando naqueles que se encontravam ao seu alcance dentro da Rússia, e sabíamos que era uma questäo de tempo até virem atrâs de nôs.
62. Näo tinha como escapar‚ visto que éramos bem conhecidos e tínhamos sido bem proeminentes na igreja e na comunidade estrangeira. Na noite antes de nos pegarem, meu pai tentou me tirar do país com a ajuda de algumas pessoas em quem pensou que podia confiar, mas nos delataram e fui pego antes de sair da cidade. Fui preso e outras pessoas também levadas para lâ me disseram que meus pais também estavam presos.
63. Ficamos amontoados em celas abarrotadas e me senti como os cristäos em Roma devem ter se sentido enquanto esperavam para serem servidos aos leöes. Tentei orar, mas me sentia avassalado por um sentimento de culpa e de condenaèäo por todo o tempo que desperdicei com frivolidades. Depois me senti dominar pelo medo, até finalmente encontrar algum refúgio no sono. Näo conseguia me lembrar de muita da Palavra que aprendera quando crianèa‚ embora de vez em quando ela me vinha, como um raio de luz no meio das densas trevas que me envolviam.
64. (Jesus:) Nos momentos de trevas Eu serei sua luz guia. Invista seu tempo com sabedoria agora. Valorize as Minhas palavras e esconda-as em seu coraèäo. Fortaleèa sua conexäo Comigo hoje. Depois, quando a sua sobrevivência depender desesperadamente dessas coisas, elas tomaräo vida como nunca antes.
65. Hoje em dia, algumas das coisas que faz säo em obediência cega a Mim, e näo entende o motivo para elas. Um dia, e quando mais precisar, aquilo que esteve dormente no seu coraèäo vai entrar em erupèäo como um vulcäo de paz e consolo, aquecendo-o desde as profundezas de sua alma e fazendo-o resplandecer e ser revestido de poder pelo Meu Espírito! Você näo sô serâ consolado, mas poderâ orientar outros e encorajâ-los em tempos de grande tribulaèäo e adversidade.
66. Eu queria viver! Queria recomeèar, mas näo tinha como. Era tarde demais para estalar os dedos num gesto de comando ou usar ouro para virar a situaèäo. O verdadeiro ouro que teria me ajudado a passar por essa crise eu tinha esbanjado e rejeitado em troca do ouro físico, que agora tampouco estava disponível. Continuei me convencendo que tudo ia dar certo, que logo nos libertariam e que entäo continuaríamos normalmente com a nossa vida. Jurei que quando fosse libertado eu me esforèaria como nunca para recobrar o amor que tinha antes pela Palavra e a minha fé.
67. Depois de duas semanas preso, era jâ tarde certa noite quando uma tropa de soldados veio à nossa cela e um guarda nos disse que iríamos de trem a um lugar mais seguro. Ele disse que as pessoas estavam zangadas conosco e que seríamos transferidos a outro lugar onde poderíamos ficar. Parecia bom demais para ser verdade, e a escuridäo e o ôdio nos olhos dos soldados me diziam que suas intenèöes näo eram nada boas.
68. Fomos colocados nos vagöes de carga de um trem. Estava extremamente frio, mas éramos tantos ali apinhados que os muitos corpos ajudavam a aquecer um pouco o ambiente. Sô havia espaèo para alguns se deitarem e dormirem, entäo nos revezâvamos. Muitos no trem estavam desesperados, mas no seu desespero encontravam forèas em Jesus, cantando hinos de fé e levantando o ãnimo daqueles que eram täo fracos, inclusive eu.
69. Tentei ser como eles, mas tinha muito pouco no que me apoiar. Fiquei me condenando pela minha estupidez, mas näo podia fazer mais para mudar a situaèäo. Quantas vezes meu pai tinha nos dito para valorizarmos os bons tempos? Quantas vezes ele dissera que nôs, como cristäos vivendo no mundo do Diabo, tínhamos que estar sempre prontos para perseguièäo, e que os tempos de paz e prosperidade sempre chegavam ao fim? Eu ficava chateado e frustrado com esses sermöes.
70. (Jesus: ) Quando você se encontra numa situaèäo difícil, entäo percebe o valor da fé. Às vezes parece banal e desnecessârio investir tanto tempo e esforèo para fortalecer a sua fé, mas quando tudo lhe é tirado, quando näo tem no que se apoiar a näo ser a sua fé em Mim, entäo percebe como ela é realmente importante.
71. Em tempos difíceis a fé aumenta e é fortalecida, mas você precisa de algo da qual extraí-la — um alicerce‚ uma forte conexäo Comigo, e uma fundaèäo da Palavra no seu coraèäo. Caso contrârio näo vai ter fé e desfalecerâ no seu coraèäo. Entäo, sejam sâbias, Minhas noivas, e fortaleèam a sua fé hoje em tempos de paz‚ porque nunca sabem quando a sua fé em Mim serâ a única coisa que lhes restarâ na Terra.
72. Foi entäo que vi que ele sempre teve razäo. E näo importa onde ele estivesse, eu sabia que ele provavelmente estaria dando graèas a Deus, por mais horrível que fosse a sua situaèäo, como os cristäos ali ao meu redor. Mas eu näo tinha essa gratidäo nem essa paz ou fé. E näo importa o quanto eu tentasse me lembrar das palavras de fé e consolo de meu pai, de forèa em tempos de adversidade e coragem frente ao perigo, das bênèäos de Deus para os que säo perseguidos em nome da justièa — näo conseguia me lembrar de nada nem me consolar com essas palavras.
73. Depois de dois longos dias frios de viagem, paramos no meio do nada. Tentei ver a cidade ou campo de trabalho, ou seja o que fosse para onde estariam nos levando, mas näo havia nada‚ sô gelo. Comeèaram a desengatar o nosso vagäo e o medo se apoderou do meu coraèäo. Eu ainda näo tinha me agarrado verdadeiramente ao Senhor. Embora eu soubesse que tinha falhado, o meu orgulho simplesmente näo me deixava encarar como eu tinha fracassado totalmente. Até aquele momento ainda estava pensando que tudo ia dar certo e que eu poderia voltar à minha velha vida e confortos e me sair melhor da prôxima vez.
74. Abriram a porta do vagäo e nos mandaram sair. Ninguém protestou e fomos tirados do vagäo para gado. Todos pareciam prontos para aceitar seja o que for que aconteceria a seguir. Eu simplesmente acompanhei tudo, minha mente estava insensível demais para pensar no que estava realmente acontecendo ou no que mais eu poderia fazer. Ao meu redor sô havia gelo, sem acampamento nem estrada nem sequer pegadas à vista.
75. Naquele momento a realidade caiu em mim como um raio: o nosso fim estava prôximo. Minha vida tinha chegado ao fim e eu teria que encarar o Senhor e prestar contas dos meus fracassos. Estava desesperado, tanto porque temia a morte como porque näo conseguia sequer pensar em ver a face do Senhor e o olhar de vergonha que Ele certamente teria para mim.
76. Fizeram-nos andar até um lago congelado onde nos forèaram a nos despir enquanto os soldados zombavam de nôs. Disseram-nos entäo para caminharmos uma certa distãncia no gelo senäo atirariam em nôs. Durante todo o caminho, até chegar ao lago, tentei encontrar um traèo de amizade no rosto de algum soldado, na esperanèa de me safar daquela situaèäo de alguma maneira.
77. Quando chegamos ao gelo fiquei para trâs no grupo e comecei a implorar aos soldados, mas eles sô zombaram e caèoaram ainda mais de mim. Um deles disse que se eu negasse Jesus e declarasse minha intenèäo de participar da causa deles näo teria que morrer assim. Mas enquanto ponderava sobre isso ouvi os outros prisioneiros cantando uma canèäo de louvor ao Senhor, e senti tanta vergonha de estar tendo aqueles pensamentos que dei as costas aos soldados, que ficaram rindo de mim e escarnecendo.
78. Comecei a caminhar para o gelo, temendo o que estava para acontecer. O vento frio me aèoitava e eu näo conseguia entender como as outras pessoas pareciam nem ser afetadas por isso, porque eu estava sentindo dor de tanto frio. Elas comeèaram a cair e o horror da situaèäo e pensar em encarar Jesus foi demais para mim. Virei e saí correndo em direèäo aos soldados, dizendo-lhes aos berros que faria qualquer coisa se me deixassem viver. Eu negaria Jesus‚ faria qualquer coisa.
79. Eu estava à mercê deles‚ e como uma alcatéia de lobos cercando a vítima para matâ-la, zombavam de mim e me faziam implorar-lhes sem parar. Aí, o que parecia ser o responsâvel olhou para mim todo contente e disse que sô os soldados poderiam pegar o trem no caminho de volta, e que, a näo ser que eu tivesse uma farda, näo havia como eu voltar com eles.
80. Foi entäo que um soldado se aproximou e, encarando com ousadia o responsâvel e disse: "Toma! Ele pode ficar com a minha farda." Todos ficaram em silêncio enquanto ele tirava a farda e a jogava em cima de mim com um olhar de desgosto. Ele me chamou de bobo, e disse que tinha visto o que estava realmente acontecendo lâ no gelo. Disse que viu coroas descendo sobre cada um que caía ao chäo, e que eu, como um idiota, tinha saído correndo bem na hora em que a minha coroa ia ser colocada sobre a minha cabeèa.
81. Ele entäo foi em direèäo ao gelo com as mäos estendidas‚ como se estivesse para pegar a coroa. Virou-se e olhou nos meus olhos quando jâ estava um pouco afastado. Seu rosto brilhava, e foi entäo que senti o impacto do que ele dissera. Chorei amargamente, como Pedro deve ter chorado depois de negar que conhecia Jesus.
82. E foi a última vez que o vi na Terra. Voltei com os soldados e depois de alguns meses consegui escapar do exército. Procurei os meus pais, mas finalmente ouvi que tinham morrido em um dos campos. Quis fugir da Rússia e estava convencido de que Jesus nunca me perdoaria por tudo o que tinha feito.
83. Sô depois de cinco anos é que encontrei um homem que conseguiu, com muita ternura, me fazer abrir o coraèäo. Ele passou meses e meses me orientando pacientemente e me mostrando, na Palavra, a profundidade do perdäo do Senhor. Pouco a pouco comecei a entender que o Seu perdäo é de eternidade a eternidade. A centelha de fé se reacendeu.
84. Passei o ano seguinte me alimentando com a Palavra e crescendo com ela sob a orientaèäo desse senhor, até o dia em que Jesus me disse que era hora de usar aquela forèa para ajudar outros em necessidade. A perseguièäo aos cristäos havia abrandado um pouco por uns anos, mas depois voltou com grande forèa. Jesus me disse que queria que eu fosse a Moscou e que lâ Ele me mostraria o que fazer.
85. Em Moscou encontrei muitos cristäos escondendo-se de medo das gangues de Stâlin que andavam à procura de cristäos "traidores". Usei toda a Palavra com que tinha sido alimentado para edificar a fé deles, e depois de dois anos em Moscou fui capturado‚ aprisionado de novo e enviado a um acampamento na Sibéria‚ onde esperavam que morrêssemos ou pelo menos que, estando täo longe‚ näo fizéssemos nenhum estrago.
86. Lâ passei os dez anos seguintes, usando os meus fracassos como lièäo para muitos, testemunhando sobre a minha transformaèäo ao ter retornado à fé através da Palavra, para ajudâ-los a agüentar firmes quando tudo parecia perdido. E dessa vez, quando chegou a minha hora, näo tive vergonha de encarar o Senhor nem fiquei desapontado ao ver o Seu olhar de alegria e amor. Perdi uma coroa, mas Ele, na Sua infinita misericôrdia‚ me concedeu o privilégio de uma segunda chance para servi-lO‚ amâ-lO, ganhar almas para o Seu Reino e fazê-lO orgulhoso, pelo que estou eternamente grato.
87. Pietro e eu nos tornamos logo bons amigos assim que cheguei ao Céu. Primeiro foi um momento para lâgrimas de vergonha da minha parte, mas ele me encorajou e me ajudou a entender o amor de Jesus. Minha maior alegria e o que mais desejo é que vocês se deixem admoestar pela minha histôria e, com o meu pobre exemplo e fracasso, entendam e vejam que quando é preciso tomar uma decisäo relacionada a fazer a vontade de Deus‚ mesmo que implique em morte (quer física quer espiritual) vale a pena lutar para realizar a Sua vontade suprema. — Näo mais tarde ou quando lhe for mais conveniente nem quando estiver menos atarefado ou dependendo do que lhe parece mais legal no momento‚ mas sim hoje, agora!
88. Aproveite cada momento, porque você nunca sabe quäo perto estâ daquela última chance. Vocês, os filhos de David, têm recebido muito, porque väo precisar de cada coisinha que lhes foi dada para fortalecer a sua fé para os dias por vir. E se desperdièarem esses momentos aqui e agora, eu lhes asseguro que väo se arrepender no futuro. Eu me arrependi. (Fim da mensagem.)
89. (Jesus:) Eu lhes dou hoje o que väo precisar no futuro. Näo distribuo dons‚ armas espirituais, instruèöes e verdades a vocês sem um motivo, sô por diversäo. Tudo tem um propôsito específico e determinado muito mais importante do que percebem‚ porque talvez näo vejam claramente no momento.
90. Investir o que lhes dou hoje garante o seu sucesso no futuro. Desperdièar ou ser indolente com o que lhes dou, achar que sempre haverâ um "amanhä" para regressar a Mim‚ para ser mais obediente, ou para aprender a dominar o uso de uma arma do espírito, vai deixâ-los deficientes nos dias por vir, porque näo estaräo prontos para encarâ-los.
91. (Pergunta:) Senhor, o que fez a diferenèa entre Pietro e Franz naquele dia lâ no gelo? Eles tiveram uma criaèäo de certa forma bem semelhante, mas tomaram decisöes täo diferentes no final.
92. (Jesus:) No plano natural näo havia muita diferenèa entre Franz e Pietro. Ambos Me conheceram quando jovens‚ foram criados na fé e ambos a rejeitaram, por assim dizer. A diferenèa entre os dois é que ao se verem diante da decisäo de seguir o que Eu tinha de melhor e supremo para a sua vida, um fez a escolha certa e o outro a errada.
93. Naquela hora, lâ no gelo‚ chamei Franz para dar sua vida como mârtir, para ser um exemplo de graèa para morrer e desempenhar seu papel para Eu mostrar àqueles soldados a linda visäo das coroas. Mas Franz optou por recuar, sucumbir aos seus temores e transigir na sua fé. Foi uma decisäo de uma fraèäo de segundo, mas que o fez escolher o seu prôprio caminho em vez do Meu, e num momento crucial de sua vida.
94. Pietro porém, quando se deparou com sua decisäo, quando viu as coroas, fez a escolha certa. Näo é que Pietro fosse melhor que Franz, mas quando se viu diante de uma decisäo, quando teve que escolher entre preferir o Meu caminho ou o seu, Pietro escolheu o Meu. Näo foi nada fâcil tampouco. Sim‚ ele viu a linda visäo de uma coroa descendo sobre as cabeèas de cada cristäo que morreu, mas a realidade da situaèäo näo era assim täo gloriosa.
95. Pensem na perspectiva para Pietro‚ vendo corpos nus de pé num frio cortante, no meio da neve. Ele tinha visto os cristäos morrerem, e näo era uma morte graciosa nem indolor. Sim, eles tinham paz, mas ele podia se imaginar ali, nu e literalmente morrendo de frio, e näo era fâcil optar por aquilo. Quando escolheu aceitar a coroa, ele também escolheu sofrer tudo o que os outros cristäos estavam sofrendo lâ no gelo. De modo que näo foi uma escolha fâcil, sô ir correndo até lâ e pegar aquela linda coroa. Foi um sacrifício até à morte, e ele o fez.
96. Pietro fez a escolha certa naquele momento crucial. Franz fez a escolha errada. (Fim da mensagem.)
Apresentando Karinya
97. (Jesus: ) Eu lhes apresento Karinya Karpovich‚ membro honorâvel da Cidade Celestial‚ e alguém que conquistou o posto de "Guerreira de Oraèäo", um título de grande honra aqui. Ela jâ trouxe muitos ao Meu Reino através de suas fiéis e incessantes oraèöes.
98. Durante sua vida na Terra ela considerava seu papel minúsculo nas vidas das pessoas por quem ela orava continuamente, mas para aqueles cujas vidas foram transformadas, ela ainda é conhecida como “babushka”, e bastante honrada e admirada por muitos. Eu a escolhi como membro da Minha equipe pessoal de conselheiros devido à sua grande fé e amor pelos perdidos e errantes.
99. (Karinya:) Sou Karinya Karpovich, um pontinho na vastidäo do amor do Senhor, mas talvez a minha histôria possa ser uma pequena ajuda para todos que se sentem chamados a partilhar da honra e do desafio de orar.
100. Para comeèar, devo mencionar brevemente a minha infãncia‚ porque foi quando tudo comeèou. Fui criada na fé da Igreja Ortodoxa russa, onde as cerimõnias e os rituais eram considerados nosso servièo ao Todo-Poderoso. Se näo fosse pela fé de meu pai, eu nunca teria entendido o que o amor de Cristo é na realidade. Depois de todas as ladainhas e cerimõnias dos sacerdotes, íamos para nossa casinha onde, sentada no colo de meu pai, ouvia a Bíblia que ele lia para mim, jâ que era um homem muito instruído.
101. Ele jâ tinha sofrido muito, mas os momentos que passâvamos juntos eram sempre felizes. Quando jovem ele fora muito importante no nosso povoado, mas se recusara a aceitar os caminhos da Igreja Ortodoxa‚ argumentando com os sacerdotes e dizendo-lhes que Cristo era uma forèa viva, poderosa e amorosa, näo Alguém que devesse ser temido ou considerado um monstro que certamente acabaria conosco se näo fõssemos perfeitos.
102. Ele tinha uma linda esposa (descendente de italianos) e uma recém-nascida: eu. Vocês têm que entender que naquela época a Igreja Ortodoxa era o governo, e desafiâ-la resultava em expulsäo. Num pequeno povoado como o nosso isso significava ter que sair de sua casa e ficar sem dinheiro, vagando ao léu. Meu querido pai tentou defender a verdade, mas foi severamente perseguido e ameaèado de ser banido caso continuasse. Pensar em trazer tamanha sina à sua esposa e filha fez o fez passar muitas noites lutando em oraèäo. Ele näo via saída, porque naquela época perder tudo significava provavelmente morrer de fome.
103. Certa noite, enquanto orava desesperado por uma soluèäo, encontrou um versículo que diz que o nosso Senhor sempre nos daria um escape, e ao ler a Bíblia percebeu um fator comum: vezes sem conta a oraèäo mudou governos e transformou coraèöes e mentes. Comeèou entäo a ver que a oraèäo poderia fazer mais do que ele com toda a sua luta na carne. Entäo concordou em parar de desafiar abertamente a igreja, embora continuasse a compartilhar a verdade secretamente com muitos que tinham fome de um Deus amoroso.
104 Ele era um exemplo vivo da verdade, e cada noite dedicava uma hora a orar por todos no povoado, inclusive os sacerdotes. Depois que minha mäe morreu‚ quando eu tinha seis anos‚ meu pai me abraèava cada noite e sussurrava oraèöes para mim sempre que eu sentia saudades de minha mäe, para que eu encontrasse consolo nos braèos de Jesus. Embora chorâssemos às vezes, vi minha mäe muitas vezes lâ com a gente, e a alegria em seu rosto retirava toda a dor de nossa perda.
105. À medida que os anos foram passando, cada vez mais pessoas no nosso povoado vieram a conhecer Cristo de uma maneira profunda e pessoal como Aquele que as amava e cuidava delas. Muitos comeèaram a encontrar meu pai secretamente para orarem e lerem a Bíblia, visto que a maioria näo sabia ler. Suas oraèöes mudaram muitas vidas, e foi assim que aprendi o verdadeiro valor da oraèäo desde pequena.
106. Casei-me e fui morar em outro povoado depois que meu pai morreu, e ali criei um filho. Ele näo era täo forte como meu pai fora, e depois de adulto viveu a vida em busca de sua prôpria sobrevivência, em vez de sustentando outros. Mas vi uma luz no filho dele (meu neto). Nôs dois éramos inseparâveis, e embora meu filho me proibisse de orar fora da igreja — porque na época era considerado pecado invocar a Cristo a näo ser que se estivesse dentro do prédio da igreja — Pietro e eu nos encontrâvamos secretamente no meu quarto cada dia para orarmos pelas pessoas no nosso povoado que estavam doentes ou em dificuldades.
107. Com o passar dos anos e à medida que Pietro se tornou um homem, ele ficou mais céptico em relaèäo ao nosso tempo de oraèäo e vinha cada vez menos‚ embora me amasse muito. Foi entäo que vieram aquelas criaturas ímpias para o nosso meio.
108. Eu tinha ido ao mercado para comprar qualquer alimento que encontrasse. Foi um ano mais difícil do que os outros. A comida era escassa para a plebe, e nosso governo tinha sido corrompido por homens gananciosos que viviam luxuosamente enquanto muitos passavam fome. Quando cheguei‚ havia na praèa do povoado um pequeno grupo de homens falando ousadamente de comida para todos e igualdade para os pobres. Eles falavam com ardor e eloqüência, mas seus olhos eram escuros e cheios de ôdio e ira.
109. Muitos do povoado entenderam quem eles eram e os mandaram embora. Mas os jovens ficaram fascinados pelo espírito daqueles homens e outras pessoas tinham ficado täo envolvidas em tentar sobreviver que para elas eles eram sinõnimo de mais confusäo‚ sendo que jâ tinham mais problemas do que agüentavam. Finalmente expulsaram aqueles homens, mas eles ficaram acampados nos arredores da cidade‚ como se soubessem que os jovens iriam procurâ-los.
110. Vi Pietro entre a multidäo e a sua fascinaèäo pelas idéias sendo disseminadas. Aqueles homens pareciam täo poderosos, cheios de esperanèa e visäo, mas emanavam uma escuridäo assustadora, que muitos jovens näo percebiam, porque näo tinham passado pelos anos de dor e sofrimento pelos quais os outros tinham passado nas mäos de homens assim — que prometeram tanto, mas tiraram o pouco que tínhamos e nos retribuíram apenas com dor e sofrimento.
111. Eu sabia que aquela noite seria decisiva. O Senhor falou ao meu coraèäo enquanto esperava a volta de meu neto, sabendo que havia confusäo no ar. O Senhor me disse que se eu orasse‚ no final tudo contribuiria para o bem na vida de Pietro. Seria preciso muita intercessäo por ele. Ele disse que grandes problemas estavam por vir sobre todos nôs e que aquele era o caminho para a salvaèäo de Pietro, mas que sô aconteceria se eu me tornasse uma fiel guerreira de oraèäo por ele, intercedendo por suas necessidades e buscando o Senhor pelo socorro que ele ia precisar por tanto tempo quanto necessârio.
112. (Jesus:) Pode levar semanas, meses ou até mesmo toda uma vida para verem os resultados de suas oraèöes, mas eles säo garantidos! Näo importa quanto tempo Me leve para operar o milagre, serâ feito, porque sempre respondo às oraèöes de Meus filhos — às vezes imediatamente, outras vezes mais para a frente‚ às vezes num futuro distante, ou às vezes respondo no plano espiritual.
113. Entäo, nunca pare de orar por quem ama, mesmo se näo vir resultados imediatos. As oraèöes däo resultado! As oraèöes tecem o encanto e a magia do Meu poder, e na Minha hora, a resposta é liberada.
114. Vocês conhecem a histôria da partida de Pietro naquela noite. Nunca mais ouvi falar dele, mas nos dias de confusäo que se seguiram eu o sustentei em oraèäo, e muitas vezes o nosso Senhor me encorajava, me permitindo ter um vislumbre dele. Às vezes o que eu via me deixava profundamente perturbada, e entäo eu batalhava ainda mais em oraèäo. A visäo dele numa farda bolchevista, empunhando uma arma e forèando outros a irem para a prisäo, me levou a orar desesperadamente para que ele fosse resgatado das mäos dos malignos que o haviam enganado.
115. Foi pouco depois da partida de Pietro que muitos dos bolchevistas de antes regressaram ao nosso povoado. O ôdio em seus olhos sô tinha aumentado. Meu filho tinha sido um dos que os expulsaram. Desta vez, porém, eles, em maior número, juntaram os homens que os haviam expulsado e os enforcaram em praèa pública para servir de aviso a qualquer que pensasse em resistir ao seu controle.
116. Depois que Pietro partiu meu filho comeèara a mudar, a ver que sua maneira de agir näo tinha mudado a situaèäo, entäo pouco a pouco voltou a orar. Nos últimos meses antes de sua morte ele tinha concordado em orarmos cada dia na nossa casinha. A dor da partida de Pietro quebrou seu espírito, mas através da oraèäo ele recobrou a fé.
117. Antes de meu filho ser morto com os outros, ele declarou com ousadia diante de todos que aqueles homens eram do Diabo, que ele tinha encontrado a verdadeira fé e liberdade em Cristo, e que a proclamaria com seu último suspiro. Seu testemunho tocou muita gente, e embora nos meses seguintes muitos tenham morrido por se recusarem a participar do terror que assolou nossa terra, morreram conscientes da verdade.
118. Minha nora, eu e muitos outros‚ continuamos orando juntos pelos que sofriam e pelos nossos amados. Oramos pelos verdadeiros filhos de Deus na nossa terra, e orei por Pietro com mais fervor do que nunca. Jâ tarde uma noite, muitos anos depois, os bolchevistas apareceram de novo. Eles descobriram, através de espiöes, que éramos o centro do que consideravam na época um movimento de resistência — embora nossa única "aèäo" era orar contra os seus caminhos ímpios.
119. (Jesus:) A maior aèäo é a oraèäo. Os espíritos ajudantes entram em aèäo quando você ora. Minha mäo se move para realizar milagres quando você ora. Pessoas e situaèöes se transformam através da sua oraèäo, e elas ocasionam progresso. Os ventos do Meu juízo sopram em direèäo aos ímpios quando você ora. Os demõnios säo afugentados e afastados de Meus filhos quando você ora.
120. Hâ muita aèäo boa e positiva quando você ora, porque suas oraèöes säo uma forèa viva e dinãmica, nunca dormente nem parada!
121. Colocaram fogo na nossa casa‚ e acordei no meio das chamas tendo uma visäo do meu Pietro tirando a farda e voando em direèäo ao céu ao encontro do seu salvador. Nunca cheguei a sentir as chamas, porque um grupo de anjos me cercou e comecei a voar. Sabia que meu trabalho acabara. Tinha feito o que podia através da oraèäo‚ e meu querido Pietro e eu logo estaríamos nos regozijando pela vitôria.
122. Aqui no Céu, primeiro cheguei a um lugar maravilhoso entre muita gente que eu jâ conhecia, e me vi ensinando e lhes mostrando o poder da oraèäo. Näo era nada demais, apenas as lièöes que tinha aprendido com meu pai, e minha experiência de ver os frutos de suas oraèöes e das minhas. Mas essas lièöes e experiências agora faziam parte de mim e fluíam a outros para ajudâ–los a crescer.
123. A essa altura eu podia ver plenamente como as nossas palavras säo reais — principalmente quando säo petièöes Àquele que supre as nossas necessidades, que deseja erguer e ajudar cada um, e espera ouvir um clamor em oraèäo por alguém necessitado para que Ele possa interceder a favor da pessoa ou situaèäo. Como eu disse, sou indigna de entrar na presenèa do Senhor, mas se puder de alguma forma ser um instrumento para ajudar alguém em dificuldades, fico extremamente feliz. (Fim da mensagem.)
124. (Jesus: ) Nem uma palavra dita em oraèäo jamais escapa à Minha atenèäo. Eu ajo imediatamente — quer respondendo à oraèäo imediatamente, quer encaminhando o poder da oraèäo para o reservatôrio, onde serâ usado para atendê-la mais tarde.
125. As palavras vêm e väo na Terra; elas às vezes säo lembradas, e outras vezes esquecidas. Mas na Minha dimensäo, as palavras proferidas em oraèäo nunca säo menosprezadas, esquecidas nem perdidas! Nem uma gotinha de forèa, energia ou tempo investido em oraèäo é desperdièado.
Apresentando Vladimir
126. (Vladimir:) Eu estava presente naquele dia e näo me orgulho do que fiz. Estou profundamente envergonhado da minha atitude e de como prejudiquei as pessoas. Eu era um menino de rua. Näo conheci meu pai, e minha mäe morreu quando eu ainda era pequeno. Vagava pelas ruas de Petrogrado roubando o que podia e brigando pelo resto.
127. Dava tudo no mesmo. Se eu roubasse e a polícia me pegasse, eles me batiam. Se eu näo roubasse e voltasse para casa de mäos vazias‚ meu tio me batia. Descobri à medida que fui crescendo que a vida näo tinha valor, e vi muita gente morrer. Fiquei täo calejado que jâ nem me afetava mais. Mas um dia me afetou, e esse dia ficou marcado na minha memôria. Embora agora eu prefira nem pensar nisso, ainda é um pesadelo muito nítido.
128. Uns homens passaram pelas zonas pobres da cidade, dizendo a todos que se fossem com eles ao palâcio, o czar veria que tinha muita gente morrendo de fome e lhes dariam comida e talvez até dinheiro. Como tinha muita gente morrendo e desesperada, a multidäo aumentou. Eu tinha dezoito anos na época. Fomos até lâ na esperanèa que nosso czar nos ajudaria se percebesse a nossa situaèäo de extrema carência. Houve outras demonstraèöes antes, em outras ocasiöes e em outros lugares, mas pensamos que esta seria diferente.
129. Ao nos aproximarmos do palâcio nos deparamos com muitos soldados. A princípio fiquei chocado. Jâ tinha visto os guardas do palâcio à distãncia, mas ali estavam eles‚ muitos da minha idade ou mais jovens. Alguns observavam por detrâs de barricadas com rifles apontados para nôs. Outros estavam de pé em frente ao portäo do palâcio, mas com um olhar de medo. Serâ que näo sabiam que sô queríamos informar o czar da nossa situaèäo?
130. Havia um jovem oficial detrâs da linha de soldados e canhöes. Comeèamos a chamar o czar para ouvir o nosso pedido, mas ninguém apareceu. Gritamos mais alto, querendo falar com alguém, e alguns na multidäo comeèaram a ficar impacientes. Alguns homens instigavam outros a jogar pedras para mostrar que estâvamos chateados por ninguém ter aparecido.
131. O jovem oficial por trâs dos soldados tentava manter os soldados calmos, gritando para näo atirarem. Comecei a perceber que as coisas estavam ficando foram de controle à medida que os gritos da multidäo ficaram mais irados e os do oficial mais desesperados. Eu estava bem na frente da multidäo, e de repente ficou claro o perigo que corria.
132. Virei-me para ir para trâs, mas antes de conseguir passar pela primeira linha de pessoas, alguém jogou uma pedra num dos soldados. Outro soldado ao lado deste, em pãnico, atirou e imediatamente o ar foi tomado pelo estrondo de armas e canhöes, de gritos e gemidos de dor. Havia muitas mulheres e crianèas na multidäo, e as crianèas estavam brincando na frente de todo mundo, pois ninguém pensou que iriam nos ferir.
133. Muitos na linha de frente foram mortos pelos primeiros disparos. O jovem oficial berrava para os soldados näo dispararem, mas sua voz era abafada pelo barulho. As pessoas lâ na frente sabiam o que tinha acontecido‚ mas poucos sobreviveram para contar a histôria. Eu me encontrava diretamente na frente de um canhäo, e a explosäo me lanèou voando pelos ares.
134. Quando acordei, estava numa pilha infernal de corpos mortos e mutilados. Saí me arrastando daquele local cheio de sangue e terror. Jâ havia visto a morte e achava que estivesse endurecido a isso, mas o que via agora era demais para mim.
135. A fúria do massacre desconexo de crianèas inocentes anulou a realidade da situaèäo — que fora resultado do pãnico dos soldados em vez de um extermínio dos pobres pré-planejado. A fúria e a ira transbordaram dentro de mim e nem parei para pensar no milagre que tinha acabado de acontecer. Eu estava bem na frente do canhäo e embora os outros atrâs de mim tivessem sido mortos‚ eu ainda estava vivo e inteiro.
136. (Jesus:) Ah, o que Eu näo faria para salvar uma alma perdida!? Nenhum sacrifício é grande demais para Eu fazer mesmo que para um único filho perdido Meu, näo hâ nada a que Eu näo Me rebaixaria para erguer uma alma cansada e em busca da verdade, e näo existe ninguém que esteja além da possibilidade de receber a salvaèäo! Até que ponto você estâ disposto a chegar por Mim e pelos outros?
137. Sô conseguia pensar no ôdio que crescia em mim — ôdio do czar, do governo, daqueles que levaram nosso país àquela situaèäo. As semanas e os meses apôs os massacres foram täo cheios de ôdio e ira que eu estava irracional. Näo tinha nenhuma fé a que me agarrar. Pelo fato de sermos extremamente pobres, a igreja me aceitava tanto quanto aceitava os ratos que corriam pelo pequeno cõmodo que eu dividia com quatro outras pessoas. A princípio eu näo tinha como dar vazäo ao ôdio que sentia, mas näo demorou muito e fui motivado a me juntar aos bolchevistas e participar de seus planos para desarraigar aqueles ricos nojentos e destruir o seu poder para que pudéssemos gerar emprego para todos e prover comida e liberdade para a populaèäo.
138. Eu näo entendia a verdadeira batalha que estava sendo travada, sô sabia que os bolchevistas me davam comida e roupas, e que o que eles diziam fazia sentido. Eu queria ter o que via que os ricos tinham, e essa era uma maneira de endireitar as coisas. Se alguns deles tivessem que morrer para compartilharem suas riquezas, ora, eu jâ tinha visto tanta gente morrer para preservar sua riqueza que isso me parecia justo o suficiente.
139. Mas com o passar do tempo, fui vendo que o tratamento que muitos receberam era bem cruel, e ver mulheres e crianèas sendo presas ou passarem por coisas piores trouxe de volta à minha lembranèa os horrores daquele dia de tumultos. A minha consciência — calejada como estava pelo ôdio e pela ira — ainda doía de vez em quando, mas eu me forèava a continuar, fazendo vista grossa a todos os horrores dos quais eu me tornara cúmplice.
140. Era uma missäo de rotina, eu tentava me convencer. Era a primeira vez que eu acompanhava os prisioneiros no trem até os campos. Mas, me disseram, aquilo era täo rotineiro como prendê-los. Näo pude deixar de reparar em um dos soldados que viajava bem na minha frente. Ele parecia mais novo do que eu, mas näo muito. Observando-o e olhando em seus olhos, dava para perceber que ele estava passando por um conflito interno muito maior do que o nosso conflito pela revoluèäo.
141. Ele tinha um olhar torturado que denotava uma batalha interior, além de que tinha algo diferente do resto de nôs. Os outros soldados ficavam de brincadeira, bebendo e praguejando‚ ou entäo apâticos e letârgicos, mas este jovem transmitia uma certa pureza ou integridade. Näo dava para discernir o que era, o que o fazia diferente. Serâ que era um espiäo? Ele até me fazia lembrar algumas pessoas que eu prendera. Elas tinham uma certa calma e tranqüilidade que eu näo conseguia entender‚ e ele também emanava algo assim, mesmo no meio da angústia pela qual parecia estar passando.
142. (Jesus:) Depois que você se torna Meu, é Meu para sempre. Mesmo que se desvie bastante da Minha vontade ou desobedeèa ao Meu chamado na sua vida, as pessoas ainda Me veräo refletido em você. Näo tem como negar o Meu Espírito em você, porque uma vez que entro em seu coraèäo, entro para ficar. Por mais que as trevas, o pecado ou a desobediência tentem encobrir o Meu poder Eu jamais ficarei totalmente escondido, näo importa quanto a pessoa tente fingir que näo estou ali.
143. Até mesmo o desgarrado estâ preso a Mim, e nossa conexäo de amor näo serâ nunca quebrada. Meu Espírito nele näo serâ nunca eliminado ou destruído.
144. Os dias se passaram vagarosamente, numa viagem demorada por vastos campos cobertos de neve. Entäo, de repente‚ paramos no meio do nada‚ e para minha surpresa me mandaram sair do trem. Desengataram o último vagäo de prisioneiros e nos mandaram ficar ali com eles enquanto o resto do trem seguia para o acampamento.
145. Depois que o trem partiu, o comandante nos disse para abrirmos o vagäo e acompanharmos os prisioneiros até um lago ali perto.
146. “Mas eles väo morrer congelados!” sussurrei para o soldado ao meu lado.
147. Ele riu e disse. “É exatamente esse o objetivo. Como eles têm uma religiäo, e näo querem ir queimar no Inferno, vamos lhes dar o oposto, o Céu, sô que um céu bem geladinho”. Ele entäo deu uma gargalhada e alguns outros riram com ele.
148. Näo era o que eu esperava. Eu tinha concordado em tirar essas pessoas de cena levando-as até os campos de trabalho, mas näo matâ-las sem motivo! Fora contra esse tipo de matanèa sem sentido que eu tinha me rebelado pra comeèar. Mais uma vez, a visäo dos tumultos assombravam a minha mente. Vieram-me entäo as palavras “matanèa de inocentes”‚ e naquele momento comecei a ver que aqueles homens, os bolchevistas, näo eram nada diferentes dos ricos que tinham matado os pobres para sua prôpria conveniência. E de repente percebi como eu tinha ido longe nessa mesma trilha assassina.
149. Comecei a me sentir muito mal com tudo aquilo. Quando chegamos ao lago e os outros soldados comeèaram a levar os prisioneiros para o gelo, ouvi algo que me afetou mais do que aquela bala de canhäo. No princípio era baixinho e fraco mas ficou cada vez mais forte. Eles estavam cantando. Os prisioneiros estavam realmente cantando!
150. As palavras correram por aquele local gélido e chegaram direto ao meu coraèäo. Eles estavam cantando, louvando Jesus. Eu tinha ouvido as canèöes das igrejas antes, do lado de fora. Mas essas näo eram canèöes tristes‚ e sim de alegria e louvor. Como podiam estar cantando algo assim face à morte? Fiquei chocado com o que via e ouvia, mas que a minha mente näo conseguia entender. Enquanto eu estava numa pequena colina, um pouco afastado da situaèäo, vi um dos prisioneiros fugir correndo do gelo, rogando, implorando por misericôrdia, e foi logo cercado por um grupo de soldados que riam e zombavam dele.
151. Outro soldado estava a uma certa distãncia desse grupo observando a cena. Quando ele comeèou a ir na direèäo dos guardas, vi que era o jovem que parecia diferente de todos nôs. Ele puxou e empurrou para chegar no meio do grupo e o ouvi repreender os outros soldados aos gritos, e depois ao homem, chamando-o de tolo.
152. Ele entäo tirou a farda e, nu, foi para junto dos prisioneiros. Aquilo tudo parecia um sonho, eu queria acordar e me encontrar de novo na minha poltrona no trem, ainda a caminho dos campos de trabalho. Ele estava com as mäos levantadas e vi uma luz envolvê-lo à medida que ele caminhava para o lago.
153. Os outros prisioneiros tinham caído ao chäo, de modo que foquei toda a minha atenèäo naquele soldado. Quando ele caiu, vi algo que nunca esquecerei. Era como se‚ apesar do seu corpo ter caído‚ outro corpo, de luz, continuasse de pé por um momento, e depois o vi subir em direèäo ao céu. Achei que o frio devia ter afetado a minha cabeèa, mas era tudo täo real.
154. Näo consegui falar nem pensar naquela noite enquanto esperâvamos o trem que viria nos buscar no dia seguinte. Alguns soldados se divertiam atirando nos lobos que se aproximavam, atraídos pelos corpos no lago. Fizemos uma parede de gelo para nos proteger do vento, montamos acampamento e acendemos uma fogueira para nos aquecer, e assim que a escuridäo caiu todos nos revezamos na vigia‚ precavendo–nos de ataques de lobos que pudessem nos machucar ou levar nossas provisöes. O meu companheiro de turno estava calado e parecia profundamente perturbado com alguma coisa. Eu sabia como ele se sentia. Eu também mal conseguia falar.
155. Perguntei-lhe o que o incomodava, e a princípio ele näo quis responder. Eu disse "Sabe, eu nunca esperava nada disso". Ele olhou para mim com os olhos cheios de lâgrimas, com o mesmo olhar de terror que eu vira naqueles jovens soldados no palâcio naquele dia.
156. “Você viu?” ele me perguntou. "Você viu a luz e as coroas?"
157. Eu näo sabia o que ele queria dizer por coroas, mas pensar que o que eu tinha visto era real estava me deixando assustado.
158. “Acho que vi algo”, engasguei nas minhas palavras. “Eu näo vi nenhuma coroa, mas quando aquele soldado foi lâ para o gelo e caiu, vi uma luz que parecia fazer parte dele e que foi para o céu”.
159. Ambos ficamos em silêncio por um tempo, tentando absorver o que sabíamos ser mais do que a nossa imaginaèäo.
160. “Você acha que é possível? Quero dizer, acha que o que ele disse podia ser verdade?”
161. “Do que você estâ falando?” Perguntei, querendo näo ter que ouvir o que estava para vir.
162. “Pietro, o soldado que foi para o gelo morrer!” disse num desabafo nervoso. “Ele disse que viu coroas de luz descendo sobre cada um quando eles caíam. Ele disse que tinha uma prestes a ser posta sobre a cabeèa do prisioneiro quando ele correu até nôs para implorar misericôrdia. Por isso Pietro foi para lâ. Ele disse que queria aquela coroa. Acho que vi uma coroa descendo para ele. Estou ficando maluco. Estou endoidando, mas juro que vi. Pensei que era sô eu, mas entäo quando você falou também da luz... tinha que ser real! Você acha que os outros também viram?”
163. “Näo sei”, disse. Minha voz tremia quando comecei a entender tudo o que estava acontecendo. "Se fosse real, entäo o que significava aquilo? Por que aconteceu? Serâ que Deus estâ do lado dos ricos?"
164. O outro soldado‚ Yuri, riu. “Você é meio ignorante mesmo, né? Näo tem nada a ver com ser rico ou pobre. Qual é mesmo o seu nome? Nem sei como você se chama.”
165. “Vladimir, e por que estâ rindo de mim? Eu talvez näo seja esperto, mas estou lutando para dar a riqueza dos ricos para os pobres”, proclamei indignado.
166. “Vladimir, eles te enganaram amigo. Podiam ter feito isso sem todo este derramamento de sangue. Eles temem mais os cristäos do que os ricos. Entenda bem, a maior parte do tempo os cristäos näo vivem sua fé plenamente, mas, quando o fazem, säo um exemplo vivo do que os bolchevistas gostariam de criar, sô que eles querem fazer isso sem incluir Deus.
167. Eles querem se livrar desta alternativa, caso contrârio, por que alguém arriscaria a vida pela causa bolchevista, se puder atingir a utopia com o cristianismo? Essas pessoas que foram trazidas para câ para morrer foram postas no último vagäo por um motivo. Eles väo mandar os outros ricos para os acampamentos por um tempo, mas o que eles mais temem säo esses cristäos.
168. “Você viu. Eles näo tinham medo de morrer. Isso näo é humano. Prova que tem algo mais além da vida do que as revoluèöes, os governos‚ o trabalho, o päo e a liberdade — e é por isso que eles têm que dar cabo desses cristäos aqui neste fim de mundo, porque se fizessem execuèöes públicas, o fato desses cristäos morrerem sossegados e triunfantes pela sua causa seria um argumento muito mais forte do que qualquer discurso de Lênin ou Trotsky.
169. Veja sô o meu caso! Eu sempre fui ateu, e me ensinaram a odiar sequer pensar na existência de Deus. Eu achava que esses cristäos estavam apenas se mostrando para nos desafiar, e me ofereci para vir fazer este trabalho sô para provar para mim mesmo que toda aquela histôria de que eles säo diferentes e têm algo especial näo passava de mentira. Mas entäo, quando conheci Pietro‚ me senti muito pouco à vontade. Achava que tinha algo diferente nele. Eu näo sabia que ele era um deles, mas algo dentro de mim me dizia que ele era simplesmente diferente. Ele tinha uma certa paz, algo que simplesmente näo fazia sentido.
170. Aí, quando ele foi para lâ e eu vi o que vi, bem... agora minha perspectiva mudou. O que eu considerava verdadeiro parece estupidez, e o que eu achava que näo passava de faz de conta e mentira... digo apenas que é difícil negar o que os meus prôprios olhos e os meus prôprios ouvidos me dizem que aconteceu.”
171. (Jesus:) Quando se tem um tesouro de verdade por tantos anos, é fâcil se acostumar com ele e se esquecer do que se trata. Mas se fizer isso, estarâ negligenciando o que é seu, sairâ perdendo, e com essa atitude, estarâ abrindo mäo daquilo pelo qual muitos perdidos no mundo dariam a vida.
172. Eu dei a vocês, filhos de David, a Minha verdade em abundãncia. O que väo fazer com ela? Väo menosprezâ-la e tratâ-la como algo sem valor? Ou väo lhe dar o devido valor e escondê-la em seus coraèöes?
173. Ficamos sentados em silêncio por um bom tempo, tentando entender tudo aquilo.
174. "Näo sei o que você estâ pensando, mas e se for verdade?" Disse, com a voz novamente tremendo sô de pensar no que tínhamos acabado de presenciar. "Quer dizer que vamos queimar no Inferno? Acabamos de ajudar a matar todos eles! Acho que näo vamos ser perdoados por isso."
175. "Mas por que veríamos tudo isso se Deus quisesse nos mandar para o Inferno?" perguntou Yuri.
176. "Talvez para nos atormentar e nos fazer sofrer ainda mais, por sabermos o que nos espera", balbuciei, sentindo que, por pior que fosse nesta vida, agora estava destinado a algo ainda pior na prôxima. Foi entäo que entendi.
177. “Espera aí! Se esse pessoal é filho de Deus, e eles näo nos amaldièoaram nem nos mandaram para o Inferno nem demonstraram nenhuma ira ou ôdio por nôs, talvez Deus seja como eles. Com certeza a maneira como eles agiram foi sobrenatural, entäo talvez Ele seja um Deus de perdäo e misericôrdia. Talvez Ele nos perdoaria e daria outra chance.”
178. “Sei näo”, respondeu Yuri. “Näo é o que os meus pais me disseram, mas também estou descobrindo que muita coisa que eles me disseram näo é verdade, entäo, quem sabe.” Sua voz tinha um quê de esperanèa.
179. “Temos que descobrir, Yuri. Näo quero ir para o Inferno. Acho que tudo isso é real, depois de tudo o que vimos, e tenho que descobrir se hâ esperanèa de endireitar as coisas.” Eu estava desesperado e me agarrando a qualquer raio de esperanèa naquele momento.
180. “Endireitar as coisas? Você deve estar brincando!” Yuri exclamou. “Acabamos de matâ-los! O que é que você vai fazer, trazê-los de volta à vida?”
181. "Näo sei!" Respondi, “Mas deve haver alguma coisa que podemos fazer!”
182. O silêncio voltou a cair enquanto pensâvamos‚ num silêncio tenso, numa maneira de sairmos daquela situaèäo.
183. “E se encontrarmos uns cristäos de verdade e lhes perguntarmos? Eles devem saber”, cogitou Yuri, com um raio de esperanèa brilhando nos olhos novamente.
184. “Ah, claro, vamos encontrar alguns cristäos e dizer: ‘Oi, acabamos de matar alguns de seus amigos cristäos e agora estamos arrependidos, entäo como podemos ser perdoados e näo ter que sofrer por isso?’” E o censurei. “Você acha que väo nos ouvir? Provavelmente nos matariam!”
185. “Vale a pena tentar — e se morrermos näo vamos estar pior do que agora.”
186. “E onde vamos encontrâ-los?” Perguntei, temendo pensar na única resposta que podia imaginar‚ mas sem nem mesmo querer entreter tal pensamento.
187. “Poderíamos tentar entrar na prisäo em Petrogrado. Seria perigoso, e se nos pegassem seríamos mortos — mas estou pronto para arriscar. Tenho que saber.” Yuri falou num tom determinado que nunca teve antes.
188. Conversamos até altas horas da noite‚ fazendo planos sobre como arranjar uma maneira de nos colocarem de servièo juntos no presídio depois que voltâssemos a Petrogrado, onde tentaríamos encontrar um cristäo que pudesse nos ajudar. Depois... näo sabíamos o que aconteceria depois, mas ambos sentíamos que a nossa vida nunca mais seria a mesma.
189. Quando chegamos a Petrogrado, nosso primeiro passo foi nos oferecermos para servir na prisäo. Nôs nos apresentamos separadamente para näo levantar nenhuma suspeita. Era tudo um jogo de aparências naquela época, e você tinha que tomar muito cuidado com as suas aèöes‚ e quem o via com quem, porque tudo podia ser relatado ao Partido. E nunca se sabia quando até mesmo o ato mais inocente poderia suscitar suspeitas dos observadores‚ fossem eles quem fossem. Entäo tomamos o mâximo cuidado.
190. Näo tinha como escolhermos os mesmos turnos no servièo. Você pegava o que lhe era dado, e na primeira semana estivemos em horârios totalmente diferentes. Na segunda semana, porém‚ nos colocaram no mesmo turno e ambos fomos designados a policiar o Bloco C‚ onde se encontravam os piores prisioneiros.
191. Ficamos sem esperanèa, pois é claro que näo haveria cristäos entre os piores criminosos. Mas os caminhos do Senhor näo säo os nossos, e quando assumimos nosso turno, descobrimos que aquelas celas estavam repletas de homens, mulheres e crianèas, em vez de criminosos calejados — e muitos eram cristäos. Viviam em condièöes terríveis, mas näo podíamos fazer muito por eles.
192. Fizemos o possível para ajudâ-los e sermos amigâveis. Eles nos agradeciam, mas suspeitavam, pensando que éramos espiöes procurando um motivo para executâ-los. Finalmente, depois de três dias, um homem chamado Dmitri comeèou a falar conosco. Como os outros guardas tinham saído um pouco, lhe contamos rapidamente a nossa histôria, implorando–lhe que nos perdoasse e perguntando–lhe se havia alguma esperanèa para nôs, ou se estâvamos perdidos para a eternidade.
193. Muitos que estavam ouvindo nossa histôria também choraram conosco naquele momento, e em vez de nos amaldièoarem e demonstrarem ôdio, sentimos muitas mäos se estendendo para nos tocar através das barras, tentando nos consolar. Dmitri nos disse que Jesus näo era um Deus de vinganèa mas sim de misericôrdia e perdäo. Ele disse que Jesus tinha visto nosso íntimo e nos perdoado. Sô tínhamos que Lhe pedir perdäo, aceitar o Seu perdäo e deixâ-lO governar nossas vidas daquele momento em diante.
194. A partir dali Yuri e eu nos tornamos novas criaturas. Tínhamos que encontrar uma maneira de ajudar os irmäos a qualquer custo, e se tivéssemos que dar nossas vidas para isso... jâ näo nos preocupâvamos mais.
195. (Jesus:) Eu dei tudo de Mim por você; quanto você estâ disposto a dar para Mim? Fui até a cruz por você. Até quando você vai levar a sua cruz por Mim? Usei uma coroa de espinhos por você; até que ponto você estâ disposto a lutar pela coroa da vida que lhe prometi? Eu lutei até o fim. E você? Vai fazer o mesmo?
196. Estâvamos determinados a encontrar uma maneira de ajudar o mâximo de pessoas possível‚ sô que a necessidade ia muito além do que conseguiríamos atender. Éramos apenas simples soldados e aquelas pessoas estavam presas no bloco mais vigiado da prisäo.
197. Naquela noite, Yuri e eu fizemos o que nossos amigos cristäos nos disseram, e pela primeira vez na vida nos esforèamos para falar com Jesus. No princípio foi um pouco estranho tentar falar com alguém que näo se vê, e me senti um pouco tolo. Mas entäo‚ quando expressei o que ardia em meu coraèäo, algo dentro de mim mudou. Era como se uma porta tivesse sido aberta, e eu näo estava apenas falando com alguém que näo conseguia ver. Ele estava ali, na minha frente, e eu falava com Ele como se fosse um amigo do peito.
198. Depois perguntei hesitante a Yuri se ele tinha sentido algo. Ele me pareceu bastante nervoso, mas vi que também tivera uma experiência. Entäo me pus a contar o que havia me acontecido‚ e o sorriso cada vez maior em seu rosto demonstrou que ele tivera a mesma experiência.
199. "E aí? O que fazemos agora?" perguntou Yuri.
200. “Näo sei‚ mas temos que fazer alguma coisa. O que você acha?” perguntei‚ “se Jesus pode nos mostrar o que acabou de mostrar, näo poderia nos dizer o que podemos fazer para tirar os cristäos da prisäo?” Estava muito além da minha imaginaèäo, mas, por outro lado, tinha acontecido tanta coisa naquelas últimas semanas, muito além do que eu poderia imaginar, que entäo tudo parecia possível.
201. Sendo assim, ficamos em silêncio de novo e esperamos que as visöes comeèassem. Näo sabíamos direito o que ia acontecer, mas sabíamos que algo ia acontecer. Depois de um tempinho ali sentados, o plano comeèou a se desenrolar na minha cabeèa, embora fosse algo täo além do que eu pensava ter condièöes de fazer que tive até medo de falar.
202. “Acho que o que recebi é muito louco, näo dâ para imaginar”, disse, "entäo, fale você primeiro."
203. "O que pensei também é totalmente impossível", murmurou Yuri, parecendo bem desencorajado.
204. Depois de explicarmos o que recebêramos, ficamos olhando chocados um para o outro. Os dois planos era igualmente utôpicos e impossíveis — na verdade eram idênticos! Ambos estavam relacionados a esses prisioneiros serem colocados no último vagäo de um trem que viria para transferir prisioneiros — algo que nem sabíamos que ia ser feito.
205. Imagine nossa surpresa ao sermos informados poucos dias depois que estavam realmente para transferir alguns prisioneiros, e o nosso bloco era um dos que seria transferido. Ao ouvirmos isso, Yuri e eu entramos em aèäo. Fomos ao oficial responsâvel pelas transferências e explicamos que tínhamos conquistado a confianèa dos prisioneiros no nosso bloco, e que eles confiariam em nôs se lhes disséssemos que íamos levâ-los a um local onde estariam mais seguros. Além disso, nôs dois jâ tínhamos feito esse tipo de missäo, de modo que sabíamos a razäo da viagem, e näo teríamos problemas com isso.
206. “Perfeito”, respondeu o oficial, “porque o seu bloco estâ designado para o último vagäo do trem.” A essa altura, notícias confirmatôrias assim jâ näo nos surpreendiam.
207. Chegou o dia em que os prisioneiros seriam colocados no último vagäo de carga do trem, com destino ao norte. Quando o oficial de transferência viu nosso bando de prisioneiros täo cheios de paz e confianèa entrar no vagäo, nos elogiou admirado. “Acho que vou recomendar uma promoèäo para vocês dois. Precisamos de homens mais talentosos e dedicados como vocês no centro de treinamento de oficiais. Quando voltarem venham me ver. Posso ter boas notícias para vocês. Por agora, Vladimir Sentrikov, eu o coloco responsâvel dos soldados que estaräo com você caso precisem deixar alguns passageiros no caminho.”
208. Além da informaèäo oficial que “vocês seräo levados para um lugar melhor e mais seguro”, näo contamos a nenhum dos prisioneiros os nossos planos. Näo queríamos informâ–los de nada, tanto pela seguranèa deles como pela nossa. De modo que quando entraram no último vagäo alguns ficaram apreensivos ao verem que era um vagäo de carga, mas ao olharem para os nossos olhos pareciam sentir seguranèa. Eu, porém‚ me sentia tudo menos seguro naquele momento. Seria preciso um milagre e tanto.
209. O oficial verificou o trem inteiro pessoalmente. Ele inspecionou tudo, cada gancho, cada porta, a lista dos prisioneiros, para se certificar de que näo haveria erros. Ele era famoso por dar atenèäo aos detalhes, e o fato dele inspecionar nosso vagäo por último — e que o trem partiria logo apôs a sua autorizaèäo — impossibilitava ainda mais a concretizaèäo do nosso plano.
210. Assim que o oficial acabou de inspecionar cada centímetro do último vagäo e foi para a frente do trem, Yuri entrou no espaèo entre os vagöes e comeèou a retirar a peèa que conectava o último carro ao resto do trem.
211. Enquanto ele se esforèava para soltar o pesado pino de metal, o oficial de repente parou a alguns vagöes de distãncia, deu meia volta e se dirigiu rapidamente na minha direèäo. O trem entraria em movimento a qualquer instante, e Yuri estava entre os vagöes tentando freneticamente soltar o pino. O oficial agora olhava para mim, a apenas três metros de distãncia‚ me incapacitando de dar qualquer sinal a Yuri!
212. Decidi caminhar em direèäo a ele para encontrâ-lo mais longe do nosso vagäo.
213. “Vladimir! Quase ia me esquecendo”, disse ele com um tom de autoridade‚ “Resolvi acompanhar este trem para poder comentar sobre suas atividades em primeira mäo. Meus relatôrios pessoais têm bastante peso no Partido. Disseram-me que você e Yuri viajaräo em cima do trem na primeira parte da viagem, até sair da cidade, para se certificarem de que ninguém escapa nem recebe ajuda de fora. Entäo pensei que deveria também ir com vocês em cima do carro para podermos conversar. Gosto de você e vejo muito potencial em jovens inteligentes como você e Yuri.”
214. “Obrigado, senhor”, eu disse com ousadia na esperanèa de que a explosäo de nervos dentro de mim passasse despercebida. “Para mim é uma honra ter o senhor lâ comigo, mas minha preocupaèäo pela seguranèa de um membro täo importante da nossa revoluèäo me leva a rogar que sente–se no carro de passageiros na frente, e assim que sairmos da cidade eu me juntarei ao senhor na primeira parada.
215. Além disso‚ geralmente hâ galhos e outros obstâculos que passam perto dos carros, e temo que a nossa conversa näo nos permita estar vigilantes o bastante e poderia até causar um acidente com um de nôs ou ambos. Yuri e eu ficamos em lados opostos do vagäo justamente por isso, para evitarmos a tentaèäo de conversarmos. Eu lhe rogo, pela minha seguranèa e sua, que me encontre no vagäo de passageiros.”
216. O oficial hesitou por um instante, sem querer parecer temeroso do perigo, mas também querendo garantir sua prôpria seguranèa. Foi entäo que a locomotiva comeèou a se mover alguns centímetros para a frente. O engate comeèou a se separar, e Yuri saltou de entre os vagöes — mal conseguindo soltar seu pé para näo ficar preso debaixo das rodas quando entraram em movimento.
217. “Entäo, muito bem,” disse o oficial, um pouco desapontado mas também aliviado por a sua tentativa de demonstrar coragem näo ter que ser posta em aèäo. “Eu o espero lâ na frente.” E voltou-se, tentando da maneira mais digna possível, meio que andar e correr para o carro dos passageiros antes do trem dar um outro tranco e iniciar a viagem.
218. Quando o trem andou, nosso carro mexeu uns poucos metros para frente‚ e depois se soltou do resto do trem que partia, deixando tanto nôs como os prisioneiros na plataforma. Yuri e eu näo sabíamos se ríamos ou se chorâvamos.
219. Até entäo o plano tinha funcionado. Agora chegou a parte difícil. Eu teria que passar mais uma vez pelo escritôrio de transferência. O oficial tinha deixado um de seus assistentes responsâvel. Eu näo sabia como o Senhor ia realizar a prôxima parte de Seu plano. Eu tinha recebido que devia observar e ver, e entäo saberia o que fazer. Parte do plano era que Yuri preencheria outra ordem para este carro ir a uma certa cidade nos Bâlcäs. A ironia era que‚ tendo crescido nas ruas, eu nunca aprendera a ler nem escrever, ao passo que Yuri era instruído nas duas coisas. Contudo o Senhor me disse para agir como o instruído entre os dois. Ao me dirigir ao oficial, um homem discutia com o assistente em servièo.
220. “Tenho 13 carros na minha lista e apenas 12 na plataforma. Onde estâ o oficial? Näo posso seguir sem o outro carro. Exijo ver o oficial.”
221. A discussäo estava esquentando. O assistente näo podia permitir que sua posièäo de responsabilidade fosse manchada por aquele erro na ausência do oficial, e tinha que de alguma forma fazer com que parecesse culpa de outra pessoa. O trem, é claro, estava destinado à mesma cidade que fomos instruídos a usarmos na nossa nova lista. Fiquei um pouco surpreso com a rapidez com que as etapas do plano que estavam totalmente fora do nosso controle se desenrolavam.
222. “Perdäo, senhor, talvez eu possa ajudar”, ofereci‚ colocando rapidamente a lista de Yuri nas mäos do assistente. “Acredito que estou responsâvel pelo carro que os senhores estäo procurando. Foi colocado por engano no final da plataforma três. Aqui estäo os papéis.” Ambos olharam surpresos.
223. "Näo tem nenhum vagäo extra no final da plataforma três!" vociferou o assistente. Dois erros podiam lhe custar este emprego.
224. “Acredito que foi um erro de algum camarada em servièo antes do senhor chegar aqui”, expliquei. “Talvez se colocarmos o trem caladamente na plataforma três possamos eliminar todo o problema e ninguém precisarâ tomar conhecimento do ocorrido.”
225. O outro homem, sem querer passar horas infindâveis no trabalho de corrigir sua lista e explicar às autoridades o que tinha acontecido ao carro que havia sumido, concordou rapidamente com a idéia e o assistente deu um audível suspiro de alívio. Abanando as mäos como que despachando a situaèäo‚ ele disse: "Faèa o que quiser, desde que eu näo tenha que me envolver. Agora me deixe em paz. Tenho muito o que fazer."
226. O vagäo logo foi engatado. Este trem em particular era um trem civil cheio de bens e näo prisioneiros‚ de modo que a vista de um vagäo de carga apinhado de gente assombrou o maquinista. Ele, contudo, estava se acostumando àquela época estranha em que estâvamos vivendo, e sabia que era melhor näo fazer perguntas.
227. Depois de três ou quatro dias de viagem, jâ bem distantes de Petrogrado, chegamos a Kharkov. Expliquei ao responsâvel pelo trem que Yuri e eu fomos designados a levar aqueles prisioneiros a um campo de trabalho fora daquela cidade‚ e lhe mostramos uma série de ordens de um oficial superior — tudo feito por Yuri, é claro — para provâ-lo. Se havia algo que os comunistas sabiam fazer era produzir documentos para tudo — especialmente operaèöes militares. Felizmente para nôs, naquela época havia tantas versöes de documentos que era impossível para um maquinista saber se o nosso documento era ou näo oficial — mais um dos jeitinhos de Deus para nos ajudar a agilizar o Seu plano “impossível”.
228. Orientei o maquinista a parar o trem a vârios quilõmetros fora da cidade e desengatar o vagäo num trilho adjacente para esperar outros soldados que viriam pegar os prisioneiros para levâ-los ao acampamento.
229. Quando o trem foi embora, Yuri e eu explodimos em louvores pelos milagres que havíamos testemunhado, e logo tiramos todos aqueles prisioneiros surpresos para fora do vagäo e os dispersamos pelo campo para seguirem o Senhor onde quer que Ele os guiasse. Foi uma despedida cheia de lâgrimas mas feliz.
230. (Jesus:) Mesmo se Eu lhes disser para fazerem algo fora do convencional e aparentemente impossível, se Me seguirem, darâ certo. Por mais louco ou fora da realidade que os Meus caminhos pareèam‚ e mesmo que os seus prôprios planos pareèam mais lôgicos e viâveis, é sempre melhor seguir a Minha orientaèäo.
231. No futuro, milagres impressionantes e incríveis de livramento‚ proteèäo e provisäo seräo mais do que comuns, e poder Me ouvir claramente garantirâ que possam receber o Meu plano e agir de acordo com ele. Muitas vezes os milagres acontecem por causa de suas aèöes, por causa de algum passo de fé, como por exemplo, tirar a pedra da frente. Mas vocês näo podem dar um passo de fé a näo ser que saibam que passo devem dar, e para isso precisam ouvir, acreditar e aceitar.
232. Quanto a Yuri e eu, o Senhor nos guiou a irmos para o sul dos Bâlcäs, onde conseguimos desfrutar de liberdade suficiente para ajudarmos as pessoas e as incentivarmos a conhecerem a Cristo. Nunca mais ouvimos falar do oficial, e o Senhor nos permitiu milagrosamente viver nossas vidas em relativa paz e servindo a Ele. (Fim da mensagem.)
A importãncia das suas decisöes diârias
233. (Jesus:) Cada dia vocês têm que tomar decisöes — decisöes de se submeterem, de obedecerem, de escolherem a Minha suprema vontade e o que é melhor na situaèäo‚ e também decidir se väo abrir mäo do que querem e de seus desejos. Como seu Pai David lhes disse hâ muitos anos, é como se cada dia você tivesse que decidir morrer para si mesmo e para as suas prôprias idéias‚ morrer diariamente. Cada dia você se depara com a opèäo de morrer para si mesmo espiritualmente de modo a fazer a Minha vontade, e a maior parte do tempo as decisöes que toma para Me servir näo säo fâceis, custam muitíssimo.
234. Hoje você näo estâ encarando o martírio, näo estâ lâ no gelo prestes a encarar a morte física. Mas cada dia tem que optar por fazer a Minha vontade acima da sua, por mais difícil que seja, apesar do que lhe custe. Discipulado é isso. Ser cristäo é isso. Ser membro da Família é isso. E tudo se resume a pequenas decisöes. Você vai escolher o Meu caminho ou o seu? Vai seguir pela estrada alta ou pela baixa? Vai dar 110% ou 50%?
235. A essência desse testemunho é fazer a Minha vontade, qualquer que seja ela no seu caso. Se o coloquei “no gelo”, por assim dizer, e lhe pedi para ser uma testemunha para Mim ou para morrer para si mesmo, entäo essa é a sua vocaèäo e o papel que tem que desempenhar. Faèa–o portanto com alegria e de todo o coraèäo, por maiores que sejam os sacrifícios. Se o estou chamando para ir e assumir um servièo que outra pessoa abandonou, faèa-o com orgulho e entusiasmo. Se o chamei para continuar lutando depois de uma grande derrota e revés, faèa o melhor que puder. Se o chamei para ser um guerreiro de oraèäo‚ ore como um desesperado. Se o chamei para seguir um plano louco para realizar a Minha vontade, entäo faèa-o, por mais que fuja ao convencional ou ao natural; näo siga o caminho da sua carne e da mente carnal‚ que sempre se opöe aos Meus caminhos.
236. Você, como todos os Meus filhos, receberâ uma linda coroa de vida, que é automaticamente sua com a salvaèäo. Mas hâ muito mais para aqueles que Me däo tudo de si. Filhos de David, Eu lhes garanto que as recompensas que estäo à sua espera no Céu säo muito maiores do que a coroa que qualquer um nesta histôria recebeu, porque vocês estäo dedicando suas vidas a Mim a cada dia. Sinto-Me na obrigaèäo, impelido a traduzir isso em recompensas magníficas‚ espetaculares e gratificantes — mais do que a sua mente poderia sequer imaginar ou compreender. Eu também Me deleito em lhes conceder recompensas e bênèäos no momento, para demonstrar o Meu amor e gratidäo.
237. Vocês talvez nunca fiquem sabendo como uma determinada escolha é crucial. Por isso lhes rogo que se esforcem para fazerem as escolhas certas, as Minhas escolhas, a cada passo. Por isso Eu os instruo a ouvirem-Me, a permanecerem firmemente arraigados na Palavra e manterem sua conexäo Comigo firme e forte. Se agirem assim, quando se depararem com decisöes, a sua fé estarâ forte o bastante para tomarem a decisäo certa por Mim, decisöes que daräo espaèo para que a Minha vontade seja feita, e que por sua vez lhes traräo realizaèäo e felicidade nesta vida, como também muitas recompensas na vida por vir.
238. Minhas queridas noivas, por favor‚ tomem decisöes boas, sâbias, obedientes, submissas, sacrificadas‚ amorosas, guiadas pelo espírito e baseadas na Palavra cada dia. Assim seräo fortalecidos no espírito para fazerem a Minha vontade, mesmo quando isso lhes custar! E quando chegar a hora de vocês receberem sua linda coroa de vida e recompensas celestes, näo se envergonharäo, mas se regozijaräo, sabendo que fizeram o melhor que podiam, correram a carreira com paciência, fizeram as escolhas certas, e Me serviram bem. Eu colocarei uma coroa nas suas cabeèas e lhes direi: "Bravo, Minha noiva obediente, leal e merecedora! Seja envolvida pela plenitude do Meu amor e desfrute de sua recompensa completa!" (Fim da mensagem.)
239. (Pergunta: ) Esta foi a única época em que cristäos foram postos no gelo para morrer durante a revoluèäo russa? Ou era algo comum? Segundo um certo site que trata de perseguièöes aos cristäos na Rússia, sô no ano de 1918, a organizaèäo Felix Dzerzhinsky, a primeira polícia secreta russa, “executou mais de 3 mil clérigos ortodoxos de todos os níveis. Alguns foram afogados em buracos feitos no gelo ou banhados com âgua fria durante o inverno até virarem colunas de gelo”. De modo que a execuèäo por congelamento parecia ser uma prâtica bastante comum na Rússia. Foi mesmo o caso?
240. (Jesus fala: ) Verdadeiramente, muitos de Meus filhos vieram para junto de Mim na época da revoluèäo russa. Os bolchevistas eram maus e sanguinârios‚ com um ôdio implacâvel de Mim e de qualquer um associado a Mim. Ele eram consumidos pela ira, inveja e pelo ôdio‚ além de inspirados pelo seu pai, o Diabo‚ querendo destruir tudo o que era bom e proveniente de Deus. Eles mataram milhöes dos Meus filhos, e esse método de expõ-los ao tempo foi utilizado no comeèo.
241. Depois se cansaram de tais métodos e passaram a fuzilar as pessoas, mas o congelamento era comum no comeèo. Aconteceu por toda a Rússia, e as histôrias dessas execuèöes e dos milagres que fiz em alguns casos também se espalharam por toda a Rússia. Às vezes Eu simplesmente trazia os Meus filhos para junto de Mim, onde estariam aquecidos e seguros e nunca mais passariam necessidade ou perigo. Outras vezes fiz milagres tais com o relatado nessa histôria, manifestando-Me para alguns soldados, ou fazendo suas armas travarem por causa do frio ou, se Eu ainda tinha trabalho para certas pessoas na Terra, as trazia de volta à vida quando jâ consideradas mortas, depois que seus carrascos partiam. (Fim da mensagem de Jesus.)
Uma histôria resumida da revoluèäo russa
(Compilado e traduzido da Enciclopédia Britãnica e diversas fontes na Internet)
No reinado do imperador (Czar) Nicholas II, a Rússia era uma autocracia absoluta, com todo o poder nas mäos do imperador e dos nobres da corte. A classe trabalhadora, porém, também ficou cada vez mais organizada‚ criando sindicatos que, esperavam, viessem a incentivar os trabalhadores a se concentrarem em ganhos econõmicos e ignorarem outros problemas sociais e políticos mais genéricos.
Em janeiro de 1905, depois de uma constrangedora derrota na guerra russo-japonesa, que desmascarou a falta de desenvolvimento russa, o descontentamento com relaèäo ao imperador comeèou a crescer‚ dando início a uma onda de greves em Säo Petersburgo, capital da Rússia e onde se encontrava a residência do imperador, o Palâcio de Inverno. Algumas foram violentas, e muitos grevistas e manifestantes foram mortos.
Uma série de greves em outras cidades e manifestaèöes camponesas no interior do país se seguiram, e em outubro desse mesmo ano‚ diante de uma greve geral‚ Nicholas prometeu ao país um parlamento eleito, chamado Duma, que ajudaria a monarquia a governar o país. No ano seguinte esboèou-se uma constituièäo e houve eleièöes para posièöes na Duma, colocando o poder legislativo nas mäos do povo pela primeira vez e garantindo liberdades civis fundamentais para a populaèäo em geral.
Esforèos constantes para se tirar ainda mais o poder das mäos da monarquia foram freados com o início da I Guerra Mundial em 1914, quando a Rússia declarou guerra à Alemanha. Contudo, o apoio do povo à guerra caiu drasticamente quando, até o comeèo de 1916, o exército russo sofrera dois milhöes de baixas e parecia destinado à derrota. Enquanto isso os camponeses estavam à beira da fome, e alguns revolucionârios entre eles comeèaram a organizar piquetes e manifestaèöes por todo o país exigindo päo.
No dia 8 de marèo de 1917, uma greve das operârias da indústria têxtil fora de Petrogrado (o nome da cidade foi mudado para Säo Petersburgo em 1914.) aumentou até se transformar numa greve geral na cidade. A monarquia, em contrapartida, deu um ultimato aos trabalhadores‚ dizendo que quem näo retomasse o servièo em três dias seria recrutado para o exército e enviado para o fronte de batalha. O povo, porém, ignorou esse ultimato e continuou a protestar nas ruas. O exército foi entäo convocado para manter o povo sob controle, mas muitos soldados se identificavam mais com o povo do que com a cadeia de comando do imperador.
Os piquetes e manifestaèöes continuaram depois do terceiro dia, tornando-se cada vez mais violentos, e um batalhäo em treinamento recebeu ordens de disparar contra a multidäo, matando um grande número de operârios. Depois de ouvir sobre o incidente‚ um batalhäo apôs o outro se amotinou e se juntou à revoluèäo, suprindo os revolucionârios com o armamento que eles tanto necessitavam‚ e selando assim a vitôria dos revolucionârios.
Ao perceber que o imperador havia perdido todos os meios de impor o poder, a Duma declarou um novo governo provisôrio no dia 12 de marèo, e no dia 15 de marèo o Imperador Nicholas II abdicou formalmente do trono, terminando assim os 300 anos da dinastia da família Romanov.
Com a promessa de que ele conseguiria convencer a Rússia a cessar guerra com a Alemanha, os alemäes arranjaram uma maneira de enviar clandestinamente Lenin, um revolucionârio russo exilado na Suíèa, de volta à Rússia. Lenin entäo voltou a Petrogrado em abril de 1917 e censurou abertamente o governo provisôrio da Duma, que ainda se empenhava na guerra contra a Alemanha. Em outubro‚ o partido revolucionârio de Lenin, os bolchevistas, tinha ganhado popularidade e crescido em quantidade, e em novembro, sob a lideranèa de Lenin e a organizaèäo de Leon Trotsky, os bolchevistas assumiram o poder e todos os cargos públicos importantes. A guerra contra a Alemanha terminou dentro dos termos alemäes, e o Partido Bolchevista de Lenin tornou-se entäo o Partido Comunista que governou a Rússia nos 70 anos seguintes.
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(fim de arquivo)